Retiro “Eu vim para Servir”. Dia 27
26 de outubro de 2020

13 – Servidores:
testemunhas das “mãos e pés” do Ressuscitado

Texto bíblico: Lc 24,36-49
Lucas descreve o encontro do Ressuscitado com seus discípulos como uma experiência fundante. O desejo de Jesus é claro. Sua missão não terminou na Cruz. Ressuscitado por Deus depois da execução, entra em contato com os seus para pôr em marcha um movimento de “testemunhas” capazes de contagiar a todos os povos com sua Boa Notícia: “Vós sois minhas testemunhas”. Não é fácil converter em testemunhas aqueles homens afundados no desconcerto e no medo.
Ao longo de toda a cena, os discípulos permanecem calados, em silêncio total. O narrador só descreve seu mundo interior: estão cheios de medo; só sentem perturbação e incredulidade; tudo aquilo lhes parece muito bonito para ser verdade.
Apesar de vê-los cheios de medo e de dúvidas, Jesus confia em seus discípulos. Ele mesmo lhes enviará o Espírito que os sustentará. Por isso lhes recomenda que prolonguem sua presença no mundo.
Eles não ensinarão doutrinas sublimes, não vão pregar grandes teorias sobre Cristo, mas irradiar seu Espírito, disponibilizando suas mãos e pés no serviço do Reino.
Para despertar e ativar a fé dos seus discípulos, Jesus não lhes pede que olhem Seu rosto, mas suas mãos e pés. Quer que vejam suas feridas de crucificado; que tenham sempre diante de seus olhos seu amor serviço entregue até a morte. “Sou eu mesmo!”; o mesmo que conheceram pelos caminhos da Galileia.
Quando o Senhor Ressuscitado se apresentou diante de seus discípulos, não tinha dinheiro nem prestígio; não veio sentado em um trono de outro nem desembainhou a espada para derrotar seus algozes. Simplesmente mostrou as feridas da Cruz, as marcas da doação total. As cicatrizes que Ele mostrou em seu corpo depois da ressurreição, nunca mais desapareceram.
Olhando as mãos de Jesus, os discípulos faziam “memória” das mãos que curavam os doentes, cuidavam dos frágeis, elevavam os caídos, abençoavam as crianças, acolhiam os pecadores e pobres…
Olhando os pés de Jesus, os discípulos faziam “memória” dos pés peregrinos, que rompiam distâncias, que faziam a travessia em direção à “margem”, que o aproximavam dos excluídos, que ultrapassavam fronteiras religiosas e culturais… Contemplando as mãos e pés de Jesus, os discípulos tomam consciência que eles estavam com as mãos atrofiadas e os pés paralisados pelo medo.
A experiência do encontro com o Ressuscitado destrava as mãos e pés dos discípulos, arrancando-os do lugar fechado e lançando-os para os outros. Suas mãos e pés são o prolongamento das mãos e pés de Jesus Ressuscitado. Mãos e pés marcados com as feridas da doação, da entrega. Mãos e pés carregados de vida: pés que facilitam fazer-se presentes juntos às vidas feridas, excluídas…; mãos que se fazem vida ao sustentar a vida fragilizada.
O ser humano se define pelas mãos e pés, e não pelo rosto; não adianta ter um rosto se as mãos e os pés estão petrificados. As mãos e os pés expressam aquilo que vem do coração: se o coração está cheio de medo, dúvidas, perturbações, ressentimentos, mágoas… as mãos e os pés revelam-se atrofiados; se o coração está cheio de compaixão, de acolhida, de espírito solidário… as mãos e os pés se expressarão como serviço, colocando a pessoa em movimento em direção aos outros.
As mãos e os pés são os membros que nos alargam, nos ampliam para o encontro; eles nos tiram de nossa estreiteza de atitudes, de ideias… Por isso são membros que mais nos “humanizam”, ou seja, nos fazem “descer” ao “húmus” de nossa existência, ao chão da vida, abrindo-nos aos outros.
Para encontrar-nos com o Ressuscitado, temos de percorrer o relato dos Evangelhos: descobrir essas mãos que abençoavam os enfermos e acariciavam as crianças, esses pés cansados de caminhar ao encontro dos mais esquecidos; descobrir suas feridas e sua paixão. Esse é Jesus o que agora vive ressuscitado pelo Pai.
A verdadeira identidade do seguidor de Jesus está nas mãos e pés que se fazem vida, que se humanizam e humanizam os outros. Mãos e pés que destravam as mãos e pés petrificados e atrofiados dos outros.
Ele é chamado a ser testemunha das mãos e pés do Ressuscitado.
Mãos e pés ressuscitados nos fazem sair de nossos lugares fechados e estreitos, nos arrancam de nossos preconceitos e de nossos medos… e nos movem em direção a largos horizontes.
Por isso, Ressurreição é movimento e ação: é movimento, porque é saída de si; é ação porque é construção, compromisso em favor da vida, serviço expansivo e criativo.
Fazer a experiência da Ressurreição é ter mãos e pés do Ressuscitado: membros a favor da vida.
– em direção de quem me levam os pés?
– em favor de quem uso as minhas mãos? A serviço de quem?…