retiro em tempo de distanciamento
18 de maio de 2020
21 – Segredos da solidão que o silêncio vem contar

O silêncio é o tempo do desejo. Quem ama deseja

e quem deseja, sabe que as palavras não explicam o mais importante”

(M. Barros)

A solidão é para poucos; ela não é democrática. Não é um direito universal.

Para ser um direito de todos teria de ser desejada por todos. Mas são poucos os que a desejam.

A maioria prefere a agitação dos lugares onde se fala o que todos entendem.

Por mim e por vós, e por mais aquilo que está onde as outras coisas nunca estão, deixo o mar bravo e o céu tranquilo: quero solidão. Que procuras? Tudo. Que desejas? Nada. Viajo sozinha com o meu coração. Não ando perdida, mas desencontrada. Levo o meu rumo na minha mão. Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra. (Beijo-te, corpo meu, todo desilusão! Estandarte triste de uma estranha guerra…) Quero solidão!” (Cecília Meireles)

Quem crê aprende a conviver com a solidão. Descobre que sentir-se só pode ser algo terrível, destruidor do próprio ser, mas também pode ser um desafio criador de vida nova.

A solidão pode ser inimiga mortal, mas também poder ser uma valiosa aliada.

É necessário uma solidão para que haja uma liberdade de começo. Só os seres humanos que se relacionam bem com a solidão se põem num terreno no qual a relação com o outro torna-se possível” (E. Levinas)

A solidão, na qual alguém se deixa alterar pelo Outro é o começo da fraternidade na qual o outro aparece, por sua vez, como solidário de todos os outros.

Assim como o amor é gerado na comunicação, mas engravidado no mais íntimo do coração, também a fé “vem pelo ouvido” (Rom 10,17), mas se forma no íntimo da solidão de cada crente.

A Aliança de Deus com seu povo foi tecida no deserto do Sinai.

É no deserto e na experiência do silêncio que o profeta reencontra o Senhor (1Reis 19,12). Quando Israel afasta-se da Aliança, o Senhor promete: “Eu o atrairei ao deserto e lhe falarei ao coração” (Os 2,14). É no deserto que o Senhor abre um caminho para o povo retomar um novo Êxodo (Is 40,31).

Quando, nas profundezas do nosso interior, as palavras nos faltam e o silêncio é total, lá, e somente lá, o Espírito de Deus se faz ouvir (Rom 8,26).

Exercitando-se na solidão, o ser humano aprende a “habitar consigo mesmo” (S. Gregório Magno).

Não há solidão sem silêncio. Não se trata apenas de ficar calado.

O verdadeiro silêncio não pode ser mutismo ou fechamento interior.

Para quem crê, o silêncio é, sobretudo, atenção à Palavra de Deus escutada no próprio coração.

O silêncio interior exige, antes de tudo, esquecimento de si mesmo.

Quem fica preso a si mesmo, não fica em silêncio.

Para que a nossa solidão seja habitada e o nosso silêncio fecundo, devemos nutrir com as pessoas que nos cercam um clima de veracidade no qual a sinceridade e a delicadeza com o outro se harmonizem.

Por isso, a “melhor moldura do silêncio é a comunhão e a solidariedade.

Para a oração:

1. Procure um lugar adequado à sua pessoa e situação interior atual.

2. Dê-se um tempo de recolhimento, para aquietar-se íntima e profundamente. Procure tornar-se sempre mais consciente de que está entrando na presença de Deus de um modo especial, unificado e mais intenso.

3. Peça ao Senhor a graça, o dom que você precisa e/ ou que Ele lhe reserva sem que você o saiba.

4. Textos bíblicos: Mt 6,5-15; Eclo 51.

5. Mais do que discorrer ou falar por si mesmo, deixe que o Espírito reze através de você. Oração não é produção quantificável. Tenha certeza de que Deus está presente e é um interlocutor vivo.

6. Demore-se e detenha-se onde quer que sinta a ação de Deus e/ ou algum movimento interior.

7. Vivencie sem pressa e saboreie internamente o dom do Senhor.

8. Acolha, considere e conserve no coração a presença, a palavra e a ação do Senhor, como fez Maria.