Retiro Ecologia e Espiritualidade. Dia 11
10 de setembro de 2020

8 – “Mundo, vasto mundo degradado”

Onde o homem não se encontra, a natureza é estéril”

(Willian Blake)

O planeta Terra não suporta o ritmo de exploração ao qual está submetido pelos modelos de produção e de consumo e sua lógica de crescimento. Os recursos naturais são limitados, e sua exploração, excessiva.

Há dados confiáveis sobre a diminuição da biodiversidade e sobre a mudança climática. A gestão dos resíduos se complicou demasiadamente. Não se pode exportar o modelo de desenvolvimento ocidental aos países pobres porque ficariam maltratados os frágeis equilíbrios da biosfera.

Sem mudanças substanciais no funcionamento das sociedades industriais, a humanidade ficará condenada a uma fratura permanente entre os que se servem da natureza e os que ficam excluídos dela.

Com os atuais ritmos de depredação do planeta, condena-se as futuras gerações à precariedade.

Os políticos dos países “desenvolvidos” dissimulam a gravidade destes problemas. Não lhes agrada ter que propor medidas impopulares. Mas os países “avançados” deverão mudar muito e garantir uma boa qualidade de vida através de outros modelos de produção e de consumo.

A Igreja, em coerência com sua teologia da Criação, poderia contribuir para despertar as consciências sobre a necessidade de cuidar do planeta no qual vivemos e no qual terão que poder viver as gerações futuras. Faz-se necessário destacar as dimensões cósmicas das promessas de salvação e as tradições espirituais que, como a franciscana e a inaciana, optaram claramente pelo amor a todos os seres viventes e à natureza.

No contexto da globalização tecnológica e econômica, a Igreja deveria promover a defesa da diversidade. No mundo atual, todas as realidades humanas, culturais e sociais não integradas nas redes da globalização, caem na pobreza e na marginalização: os imigrantes que não formam parte da economia globalizada; os “infopobres”, em relação com as novas tecnologias da comunicação e da informação; os falantes de línguas minoritárias, e as comunidades humanas que cultivam valores diferentes dos promovidos pelos poderes globais.

Os processos de globalização destroem a diversidade da biosfera e a diversidade cultural. A Igreja poderia contribuir para a proteção da biodiversidade e da diversidade humana, ser um exemplo de respeito para com a diversidade das comunidades católicas e apoiar aos que lutam por uma globalização alternativa compatível com a diversidade.

Nesta luta, as comunidades católicas poderiam dar voz, dignidade e esperança aos mais fracos.

Aquele que é desprezado pelos atuais arquitetos da globalização pode ser lugar de manifestação da glória de Deus. A natureza tem que ser cuidada com atitudes amorosas, especialmente em seus setores mais vulneráveis. As culturas humanas têm direito a viver e a ter futuro, mesmo que não contêm muito aos olhos da atual globalização. Todo ser vivente possui, para muitas tradições religiosas, riquezas enigmáticas, cujo valor só se descobre nos processos de iluminação espiritual”.

(Felix Martí, Decadencia o renacimiento del catolicismo

Selecciones de teologia, 167 (2003)

Nós estamos ligados, interligados. A física contemporânea fala de “inter-conexão” de todas as coisas. Fazer bem a um elemento do universo é efetivamente fazer o bem a todo o universo; fazer o bem a uma árvore é fazer o bem ao meu ser vegetal.

Não estamos separados uns dos outros. Destruir o meio ambiente é destruir-nos e destruir o mundo.

Colher o talo de uma erva é desarrumar uma estrela”.

Conquistamos demais e cuidamos de menos. A ameaça provém da atividade humana altamente depredadora da natureza. Perdemos o sentido da corrente única da vida e de sua imensa diversidade.

Esquecemos a teia das inter-dependências e da comunhão de todos com a Fonte originária de tudo.

A oração inaciana nos faz sentir a condição de criaturas e nossa vinculação com as demais criaturas.

Tal oração nos chama a ocupar outro nível de ser, ou seja, um parentesco com toda a matéria, com todos os seres do universo. O parentesco, para nós é uma experiência de relação pessoal. Sabemos que estamos conectados através da matéria porque todos somos feitos da mesma classe de átomos e moléculas.

Também somos seres orbitais. Planetas, vivemos em busca de um sol em torno do qual gravitar. Estamos sedentos de luz. Na cotidiana convivência com os nossos semelhantes, somos todos quais partículas localizadas no espaço; porém, quando amamos, somos onda que se propaga, todo o nosso ser flui e embora aparentemente estejamos aqui, sentados à mesa ou no ponto de ônibus, de fato estamos lá onde o nosso coração nos arrebata” (Frei Betto).

Textos bíblicos: Is 24, 1-12; Is 24, 15-20.