1 – Retiro inaciano ecológico
Trata-se de uma experiência que desenvolve duas dimensões da espiritualidade inaciana: a ecológica e a comunitária.
Duas dimensões entrelaçadas que remetem ao “princípio e fundamento” inaciano: “tudo vem de Deus e tudo volta para Deus; Deus presente em todas as coisas, e todas as coisas estão presentes em Deus”.
Tal experiência parte do processo da vida, a cadeia dos seres, do sentido da evolução, e da religiosidade integrada na ecologia, que vai mais além da pura reflexão das relações entre os ecossistemas.
Considera uma concepção diferente da pessoa e a irmana com todas as criaturas de Deus.
O que é que nos une? O que é que nos põe em relação uns com os outros?
É a “comunidade universal de vida”, isto é, tudo o que existe, tudo o que vive e que tem sentido pelo fato de estar em relação, em comunhão, desde o mais ínfimo ser ao mais elevado.
É a noção do comunitário que inclui toda a matéria animada e inanimada do cosmos.
Pertencemos a uma comunidade cósmica de vida tal como foi criada e sustentada por Deus.
Há uma interação entre nós, seres humanos, e a natureza. Nosso corpo e nosso cérebro são compostos das mesmas partículas que tecem o brilho das galáxias que ardem nas profundezas siderais. Impossível estabelecer uma nítida separação entre o ser humano e o universo.
Somos quem somos somente na relação e por nossa relação com todas as criaturas e com o próprio planeta. Os acontecimentos da evolução estão inter-relacionados.
E um desafio, para a experiência de oração, assumir que o mundo é um santuário que deve ser respeitado e cuidado, que é a morada de tudo, que foi a morada do Filho de Deus, e que continuará sendo a morada da Humanidade e da Criação. E isso nos move em direção a novas visões, a novas opções, a novo estilo de vida, a novos caminhos para fazer eleição.
Nesta experiência dos Exercícios, as orações pretendem revitalizar e dar novo sentido à ideia de que a vida, em qualquer lugar do cosmos, é sagrada, como o são todos os organismos vivos do planeta.
Trata-se de fazer a experiência do sagrado presente em tudo: nas pessoas, nas plantas, nos animais e nos ecossistemas, de modo que cada um procure ampliar seu sentido de pertença à “comunidade universal de vida” e incluir o parentesco com todo ser vivo e com a natureza.
Os Exercícios Espirituais podem oferecer-nos uma experiência do mistério apaixonante da vida e fazer com que nos transbordemos do desejo de aspirar a “viver no Espírito”.
O “mistério” é uma verdade profunda, que a razão não consegue abarcá-la; quanto mais apelamos à razão, mais profundo se faz o mistério.
A experiência dos Exercícios com enfoque ecológico tem o propósito de nos levar a tomar maior consciência do profundo “mistério da vida”, que é uma experiência do Transcendente.
Isto se mostra com maior evidência em nossa experiência relacional com as plantas, os animais, os ecossistemas, os oceanos, o vento, o sol, a lua, as estrelas, as pessoas…
Na visão de S. Paulo, a evolução não está completa e por isso o cosmos é ainda imperfeito e geme para dar à luz a futura plenitude (Rom 8,19-23).
Nossa responsabilidade é viver de tal modo que a promessa da evolução se revele diante de nós em plena harmonia com o amor da Trindade. Para contribuir com o desígnio amoroso da Trindade, devemos vencer nossa inclinação doentia à exclusividade. A imagem da Trindade como comunidade é a de uma divindade incluente, cujo cosmos se move continuamente para a diversidade e novidade.
Percebemos, no momento atual, que o ser humano tem perdido o contato e a comunhão com o cosmos, com as montanhas, com os animais, com as aves, com os rios e oceanos… e isto tem provocado nele toda espécie de mal-estar, de doenças, de insegurança, de ansiedade.
Orar é primeiramente mergulhar no louvor do universo, porque, segundo os Padres da Igreja, “todas estas coisas sabem rezar antes de nós”. Orar é ter “sentimento de mundo”.
O ser humano é o lugar onde a oração do mundo toma consciência de si mesma; ele está aí para pronunciar o que todas as criaturas balbuciam.
Orar é entrar em uma nova e mais alta consciência que chamamos de fé, ou seja, a adesão da inteligência e do coração a este “Tu que É”, que se deixa transparecer na multiplicidade das criaturas.
Atrás do estremecimento das estrelas há mais do que estrelas: há uma Presença difícil de se nomear, uma Presença que tem todos os nomes…
“O meio ambiente é a face natural de Deus”.