5 – Cuidado: ternura vital
“A pessoa vulnerável necessita cuidado regado com afetividade,
especialmente ternura, pois deseja ser tratada com delicadeza e sensibilidade”
(Roque Junges)
A ternura vital é sinônimo de cuidado essencial.
A ternura é o afeto que devotamos às pessoas e o cuidado que aplicamos às situações existenciais. É um conhecimento que vai além da razão, pois revela-se como intuição, vê fundo e estabelece comunhão.
Na verdade, só conhecemos bem quando nutrimos afeto e nos sentimos envolvidos com aquilo que queremos conhecer. A ternura pode e deve conviver com o extremo empenho por uma causa: “hay que endurecer pero sin perder la ternura jamás” (Che Guevara).
A ternura é o cuidado sem obsessão: inclui o trabalho, não como mera produção utilitária, mas como obra que expressa a criatividade e a auto-realização da pessoa. A ternura emerge do próprio ato de existir no mundo com os outros
Não existimos, co-existimos, con-vivemos e co-mungamos com as realidades mais imediatas. Sentimos nossa ligação fundamental com a totalidade do mundo. Esse sentimento é um modo de ser existencial que perpassa todo o ser.
A ternura brota quando a pessoa se descentra de si mesma, sai na direção do outro, sente o outro como outro, participa da sua existência, deixa-se tocar pela sua história de vida.
O outro marca o sujeito.
O enternecimento é a força própria do coração, é o desejo profundo de compartir caminhos.
A expressão por excelência da ternura é a carícia, onde se acentua a proximidade física e o respeito ao outro. A carícia em certas situações é a melhor forma de comunicação não-verbal. Ela revela cuidado solícito, manifesta sensibilidade através do contato físico, expressa-se como gesto sensível. Contudo, a carícia transcende o sensível, porque no gesto de carinho ao corpo do outro se quer acariciar a pessoa como tal.
É o cuidado que permite a revolução da ternura ao priorizar o social sobre o individual e ao orientar o desenvolvimento para a melhoria da qualidade de vida dos humanos e de outros organismos vivos.
O cuidado faz o ser humano complexo, sensível, solidário, cordial e conectado com tudo e com todos no universo.
O cuidado imprimiu sua marca registrada em cada porção, em cada dimensão e em cada dobra escondida do ser humano. Sem o cuidado o humano se faria inumano.
O cuidado vive do amor primal, da ternura, da carícia, da compaixão, da convivialidade, da medida justa em todas as coisas. Sem o cuidado, o ser humano definha e morre.
O cuidado abre-nos caminho para viver, com mais intensidade, nossa humanidade. E viver “humanamente” significa viver em vulnerabilidade.
O ser humano é finito, portanto, vulnerável. Ele não se basta a si mesmo; necessita de relações com o seu meio, com os seus semelhantes e com o Transcendente, dando sentido à sua existência.
A vulnerabilidade é a condição de possibilidade do cuidado.
Se o ser humano fosse totalmente autônomo e auto-suficiente, não necessitaria de cuidado. Como ele é quebradiço, limitado e vulnerável, precisa de cuidado. Quem não aceita a vulnerabilidade e a inter-dependência não desenvolve atitudes de cuidado. Quem não aceita ser cuidado, também não está disposto a cuidar dos outros. Somos educados para sermos “super-homens” ou “super-mulheres”; aprendemos a não admitir e a não aceitar o limite, a vulnerabilidade, o fracasso… Nesse sentido, é preciso recuperar a fragilidade como princípio de compreensão do ser humano.
Textos bíblicos: Is 49,9-26; Os 11.
Na oração: pedir a graça de sentir a ternura e o carinho, a força e a proteção, o consolo e a cura das mãos benditas de nosso Deus; alargar o coração, para que aí a ternura de Deus possa fazer morada.