Retiro “A arte de cuidar com resiliência”. Dia 27
26 de novembro de 2020

20 – Resiliência: re-descobrindo as próprias fortalezas

Algumas pessoas conseguem reunir forças para dar a “volta por cima” nas adversidades da vida, enquanto outras demoram mais tempo ou simplesmente nunca encontram a superação dos problemas e ficam presas nas malhas da infelicidade e da angústia.
Existem pessoas que se deixam destruir pelas adversidades, pelas situações conflitantes, pelas situações estressoras e pela violência. Enquanto há outras que, além de não se deixarem abater pelo infortúnio, ainda se mostram capazes de aproveitá-lo para seu crescimento pessoal, social e profissional.
As experiências dolorosas obscurecem as buscas, os objetivos, os ideais, os planos e o sentido da vida e das coisas. Não podemos evitar que eventos muito estressantes aconteçam, mas podemos mudar a forma de interpretá-los e de responder a esses eventos. Eles podem ser momentos especiais de ressignificação do projeto de vida, às vezes até de novos rumos e orientações.
A maneira ousada e criativa de lidar com a adversidade é conhecida como resiliência.
A palavra “resiliência” foi tomada da física e passada às ciências humanas. Pode-se empregá-la com proveito no campo da espiritualidade.
A resiliência é a capacidade dos materiais de assimilar impactos sem romper-se, não só resistindo aos impactos, mas integrando a força que poderia ser adversa. Um bom exemplo disso é a vara de salto em altura que enverga ao máximo sem quebrar e volta com toda força para lançar o atleta para o alto.
No caso do ser humano, a resiliência não significa apenas um retorno a um estado anterior, mas sim a superação ou adaptação, diante de uma dificuldade considerada como um risco, e a possibilidade de construção de novos caminhos de vida. A resiliência nos revela que o ser humano tem uma capacidade de adaptar-se e ajustar-se não de maneira meramente passiva, mas na medida em que se adapta às pressões e dificuldades cotidianas, pode construir novas formas de relação, mais verdadeiras, participativas, solidárias, enfim, relações com mais qualidade.
Os resilientes buscam no auto-conhecimento o equilíbrio necessário para aprender a transformar emoções e experiências negativas em positivas. A sabedoria de conhecer a si mesmo é o fundamento para não se perder e continuar mantendo contato com os recursos pessoais para enfrentar a adversidade, seja ela suprema, seja apenas causadora de pequenas tensões e mudanças constantes. Isto ocorre porque algumas pessoas militam no modelo do “dano” e outras no modelo do “desafio”.
A resiliência é exatamente isto: a capacidade de resistir à adversidade e de utilizá-la como fator de crescimento. Ser resiliente é agir, no presente, motivado por um projeto de vida, e não pelas perdas e danos dos traumas e reveses cotidianos.
Pessoas resilientes encontram nas adversidades oportunidades para a construção de maiores aptidões e forças renovadas. As adversidades ajudam a extrair o que há de melhor na pessoa; elas despertam na pessoa capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas.
Um traço comum nas pessoas resilientes é a tolerância a mudanças; elas conseguem planejar melhor o futuro e têm muita maleabilidade para se adaptar a situações inesperadas. Transformam o que foi doloroso em matéria de aprendizado, em experiência de vida. Fatalismo e sentimento de vítima do destino passam longe da vida delas. Por outro lado, pessoas com resiliência não desenvolvida são impacientes, ficam angustiadas antes mesmo da chegada da crise e se fecham a novas experiências.
A resiliência não é uma caixa mágica, uma vara de condão ou um livro de receitas. Na verdade, ela é uma fonte de inspiração para nossas vidas e nosso trabalho, uma visão da vida que possibilita uma nova interpretação dos fatos do dia-a-dia. Em tempos de mudanças amplas, profundas e aceleradas, o conhecimento da resiliência é um instrumento válido e eficaz para todos aqueles que se propõem a crescer em sua vida pessoal, profissional, espiritual, social…
O enfoque da resiliência pode ser uma fonte de inspiração e de orientação da nossa atenção e da nossa ação cotidiana. Ser resiliente na sociedade emergente implica a aquisição de novas competências de ação que permitem adaptar-se melhor a uma realidade cada vez mais imprevisível e agir adequada e rapidamente sobre ela, resolvendo os problemas que a realidade apresenta.
Portanto, resiliência pode ser definida como um processo ativo de resistência, reestruturação e crescimento, como resposta à crise e ao desafio.

Textos bíblicos: 2Tim 3,10-17; 2Cor 11,22-33; 1Cor 4,9-13.