Retiro “A arte de cuidar com resiliência”. Dia 20
19 de novembro de 2020

16 – Presença resiliente: “nosso modo de proceder”

A resiliência, que faz de nós pessoas muito especiais, pode ser desenvolvida no transcorrer da vida, especialmente durante a infância e a juventude; para isto, é fundamental que os adultos importantes para a criança e o jovem tenham sabedoria para escutá-los e compreender o que sentem ante as circunstâncias que enfrentam, encorajem a expressão dos sentimentos, ofereçam o apoio indispensável para que eles se sintam seguros, incentivem sua independência e iniciativa para criar saídas e soluções para os problemas.
O grau de resiliência pode ser alterado pela presença compassiva e acolhedora do outro. Desta maneira, a auto-estima das pessoas sai fortalecida e a resiliência aumenta; em vez de se sentirem traumatizadas e derrotadas pela vida, elas passam a se sentir mais capacitadas para afrontar os desafios inerentes às crises.
A pessoa se transforma a partir de seu interior. Através da ação e presença instigante do outro, ela transpõe obstáculos no seu cotidiano e se revela pessoa criativa, que toca e faz o futuro, apaixona-se pelo que aprende, pelo que sonha, pelo que cria e realiza.
Só seremos nós mesmos quando alguém nos descobre, nos acolhe, nos aceita… respeita nossa verdadeira identidade. O outro é a realidade que nos permite tomar consciência de nós mesmos e de nossa nobreza.
Assim sendo, a qualidade do auxílio proporcionado e do relacionamento que se desenvolve são “ingredientes” indispensáveis para o desenvolvimento da resiliência.
Os estudiosos da “resiliência” nos atestam que, para sermos resilientes, positivamente precisamos, antes de tudo, cultivar um vínculo afetivo.
Para desenvolver a capacidade da resiliência, nós precisamos encontrar apoio das outras pessoas, sentir que alguém acredita em nós, que alguém está conosco. A mediação do outro é muito importante para que possamos nos conhecer melhor e sentir que não estamos sozinhos nos reveses da vida.
Embora a resiliência seja íntima e pessoal, a pessoa precisa de apoio, de ajuda, de acolhimento.
O vínculo afetivo nos faz sentir únicos, originais e sagrados.
O apoio social pode ser considerado de suma importância para o enfrentamento das adversidades e embates da vida. O vínculo entre as pessoas e o sentimento de pertencer e de ser respeitado em suas potencialidades, limites e necessidades levam as pessoas a reencontrar a essência de sua condição de vida.
As pessoas “resilientes” contaram com a presença de personagens significativos, estabeleceram vínculos, seja de apoio, seja de admiração. Tais experiências de apoio permitiram o desenvolvimento da auto-estima e da autoconfiança, a construção da própria identidade, a responsabilidade pessoal e o compromisso social, o sentimento de pertença…
Outro elemento significativo é o protagonismo, tanto para a superação das adversidades quanto para o próprio crescimento como pessoa e como cidadão comprometido.
Isto vemos claro no “modo de proceder” de Jesus. Ao curar fisicamente uma pessoa, Ele busca fazer emergir um ser humano mais são e inteiro, a partir de suas raízes, a partir de seu coração, centro e fonte das decisões. Jesus se compromete com a saúde radical e integral do ser humano, devolvendo-o a saúde de seu corpo, de suas emoções, projetos, relações e abertura ao Transcendente.
Através das curas Jesus mobiliza todas as dimensões da pessoa, reestrutura seu universo relacional e abre sua interioridade à alteridade; ao mesmo tempo ele potencia a liberdade do ser humano, recuperando a autonomia e a capacidade de dar direção à própria vida.
A enfermidade e o sofrimento têm muito a ver com a fragmentação, a dispersão e a divisão.
A pessoa curada por Jesus recupera a harmonia, a unificação interior e a reconciliação com a vida.
O cristão da era da informação e da virtualidade tem na resiliência sua característica fundamental.
Os seguidores de Jesus com alto nível de resiliência são promotores de habilidades para a vida; com sua presença resiliente despertam nas pessoas as potencialidades do humano que habitam em cada uma delas, levando-as a experimentar condições ousadas de crescimento e realização.
O cristão resiliente interage com as pessoas e consegue extrair delas o melhor, gosta do que faze, ama a vida e orienta-se para soluções criativas e alegres, usa o bom-humor no dia-a-dia.
Tutor de resiliência, o cristão mostra presença firme, carinhosa e desafiante, uma presença significativa; fomenta o papel ativo do outro, incentiva-o a desenvolver sua autonomia.
Sabemos que o modo de ajudar mais eficazmente as pessoas a resolver os seus problemas é ajudá-las a afirmar, desenvolver e otimizar o seu auto-conceito, a sua auto-estima.
Mais ainda, ajuda o outro a encontrar um sentido de vida, a descobrir novos significados especialmente diante de situações adversas.
A resiliência só é possível quando existe esperança no futuro e quando existe um sentido anunciado, uma meta, um horizonte ético que o coloca para frente.
Portanto, três fatores básicos promovem a resiliência: o modelo do desafio, os vínculos afetivos e o sentido de abertura ao futuro.
Por outro lado, ao trabalhar na promoção da resiliência, o cristão torna-se mais resiliente; com a experiência, torna-se mais ágil, apresenta facilidade em acolher a diversidade, gosta e aceita mudanças, encara as situações de estresse como desafio, é criativo e inovador, revela alta extroversão e abertura à experiência, des-vela outros sentidos para o existir humano, desperta para o significado mais profundo da realidade…
Declarar-se protagonista da situação em que está envolvido, possibilita ao cristão saber agir nos momentos difíceis, expressar segurança frente aos desafios e oportunidades, resistir às pressões do cotidiano…
É missão imprescindível do cristão resiliente desenvolver espaços resilientes que facilitem a abertura ao outro, reforçando assim os laços, as relações interpessoais… onde a confiança, o respeito, a solidariedade, a tolerância não sejam palavras vazias.
Pensar em pessoas mais resilientes, implica em supor seres humanos mais autônomos, críticos, participativos, sensíveis e amorosos… Instigados pela presença do cristão, elas aprendem também a viver, renascem como cidadãs pelo exercício exitoso do co-respeito, da co-responsabilidade, pela complementariedade e cooperatividade crescentes.

Textos bíblicos: Mc 10,46-52; Jo 9.