Retiro “A arte de cuidar com resiliência”. Dia 17
16 de novembro de 2020

13 – A resiliência nos humaniza

“Deus não trabalha na ansiedade do ser humano”.

O contexto social pós-moderno desencadeou uma complexa turbulência em todos os domínios da vida, gerando novos desafios para a adaptação do ser humano a seu ambiente. As pessoas sentem-se cada vez mais ameaçadas, por realidades externas e internas, a sensação de insegurança aumenta e torna-se mais indefinida e, por conseguinte, os níveis de ansiedade e angústia são cada vez mais elevados conduzindo a verdadeiras situações de ruptura e desespero.
Reforçam-se e elevam-se os gradeamentos, mudam-se e sofisticam-se as fechaduras, as pessoas armam-se, as sociedades ficam cada dia menos seguras e instáveis. É um círculo dramático e infernal cujo resultado é o desenvolvimento crescente de uma espiral de medo, de violência, de stress…, tornando as pessoas insensíveis, passivas e conformadas.
É com esta situação que temos que aprender a lidar e a conviver. De fato, a pressão rotineira vivida cotidianamente nos diferentes ambientes demanda uma enorme competência e uma capacidade de adaptação diante de situações altamente adversas, agressivas e até violentas.
No entanto, é na vivência da adversidade que se dá o encontro das oportunidades para o crescimento.
Muitas vezes são justamente as circunstâncias adversas extremamente difíceis que despertam na pessoa as condições subjetivas criativas, que enriquecem suas possibilidades práticas de atuar sobre a realidade em que vive e transformá-la ou transformar-se.
Isto quer dizer que, diante da adversidade, o indivíduo mobiliza um conjunto de recursos dos quais não tinha consciência anterior ao momento do enfrentamento, cujo efeito é potencializador de crescimento e enriquecimento pessoal e que, na ausência da adversidade, não teriam se manifestado.
“Muitas vezes é justamente uma situação exterior extremamente difícil que dá à pessoa a oportunidade de crescer interiormente para além de si mesma” (Victor Frankl).
Os atributos da qualidade de resiliência têm muito a ver com elasticidade, flexibilidade, abertura, disponibilidade, naturalidade, vida, espírito, lucidez, inteligência, sentimento, emoção, liberdade, criatividade, autonomia, responsabilidade, intuição… que confluem para aquilo que se entende por pessoa.
A resiliência contrapõe-se a estados de rigidez no nível da sensibilidade, das ideias, dos processos, das atitudes e dos comportamentos, mas sem deixar de ser tenaz, perseverante, resistente.
É a adversidade que produz resiliência.
A existência desse atributo (resiliência) possibilita ao indivíduo transcender a posição de vítima das circunstâncias exteriores e, de alguma forma, “extrair lições” dos acontecimentos e situações de crise advindas do exterior.
Denomina-se resiliência a esta re-configuração ou transformação interior perante uma situação adversa.
Ela está associada a subjetividade criativa (subyecto), autônoma, ativa e disposta à inovação e mudança.
A resiliência está associada à auto-estima, à autoconfiança, à busca de significado para a vida, à esperança e à preservação da identidade, bem como às crenças individuais e à auto-afirmação. É a pessoa capaz de encontrar qualidade e sentido de vida em meio ao que é considerado socialmente ruim ou prejudicial; é também capaz de encontrar respostas e criar soluções onde, aparentemente, estas não existem. “Quem tem um porquê viver, encontrará quase sempre o como” (Victor Frankl).
Na percepção da circunstância, o resiliente revela a habilidade de manejar a seu favor, de orientar a sua vida no sentido de se preservar e crescer, sendo capaz de visualizar as coisas de diferentes ângulos e perspectivas, pois não se prende a um único esquema de percepção das suas vivências.
Na história da humanidade, os grandes resilientes foram justamente aqueles homens e mulheres que, diante dos desafios, fizeram experiências de profundas mudanças, tanto internas quanto na sociedade em que viviam.
Resiliente é quem não se limita a reproduzir as condições existentes; seu sonho cria o imaginário de uma mudança possível e isto já o modifica como indivíduo e, por sua vez, causa impacto sobre o ambiente em que transita. O ser humano que administra sua própria subjetividade diante das crises se renova como pessoa, reafirmando-se como sujeito de sua história e de sua adaptação.
O resiliente possui um sentido de vida claro, sabe se visualizar no futuro e orienta as suas ações rumo a esse sentido de vida. Ele é capaz de capitalizar passado e futuro a favor do presente. Faz memória de suas experiências felizes e significativas e relativiza as vivências negativas, amenizando o efeito negativo das mesmas através do humor.
A resiliência desconstrói crenças pessimistas. Todo ser humano vive sob o impacto cotidiano das experiências negativas na vida.
A resiliência não o conduz a negar as realidades adversas, nem a ter uma perspectiva fatalista sobre as mesmas. Pelo contrário, a resiliência é a capacidade da pessoa de sobrepor-se à adversidade e, além disso, construir algo sobre ela.
Normalmente uma situação adversa suscita emoções negativas na pessoa que a vivencia, tais como raiva, ódio, culpa, dentre outros.
Uma pessoa resiliente mobiliza recursos internos para lidar com estas emoções, transformando-as ou eliminando a força delas.
Ao se deparar com a adversidade, a pessoa, muito frequentemente, propõe a si mesma a questão: “por que eu?”, ou seja, a partir de diferentes formas, trata de perguntar-se sobre porque determinado problema ocorreu com ela ou para ela.
O resiliente propõe a substituição desta pergunta por outra: “para quê eu?”, mobilizando-o ao questionamento do sentido do acontecimento negativo.
“Por quê?” busca explicar o passado, enquanto o “para quê?” tenta compreender o futuro e atribuir significado àquilo que, à primeira vista, se apresenta sem sentido.
Ao perguntar-se “por quê eu?”, a pessoa tende a se vitimizar e ser dominada pelas emoções negativas.
Diante da pergunta “para quê?”, as emoções podem se transformar.
O conceito de resiliência refere-se à capacidade ou potencial inerente a todo ser humano para superar situações traumáticas ou adversas e continuar a vida numa linha de desenvolvimento e progresso.
É a habilidade de lidar com a adversidade sem sucumbir, ficando mais forte e despertando recursos humanizantes desconhecidos: adaptabilidade, resistência emocional, enfrentamento efetivo, capacidade, resistência à destruição, condutas vitais positivas, temperamento especial, habilidades cognitivas, criatividade, intuição.
É a mobilização de recursos internos da personalidade, capaz de acionar as forças regeneradoras da pessoa. É um processo ativo de resistência, auto-recuperação e crescimento em resposta à crise e ao desafio, a habilidade para suportar e reagir aos desafios da vida.
Portanto, dois aspectos na resiliência: capacidade de resistir ao enfrentar uma situação adversa e capacidade de construir, apesar e a partir da adversidade.
A resiliência é considerada como um “novo olhar” sobre novos e velhos problemas. Isso significa uma sensibilidade para uma “re-leitura da realidade” pelo indivíduo que enfrenta a adversidade, no sentido de vislumbrar novos sentidos, criação de novas soluções e referências.
Resiliência não é sinônimo de resistência no sentido metalúrgico do termo; não se trata de volta ao ponto de partida, mas do crescimento ou transformação resultante do enfrentamento, pois o ser humano, diferente dos materiais, pode dispor de vontade própria para reagir, assumindo o protagonismo de sua própria história; pode revigorar ou criar novos recursos pessoais.
Podemos ressaltar a importância da afirmação de Victor Frankl sobre a “existência de uma liberdade interior que possibilita ao ser humano permanecer sendo pessoa humana, conservando a sua dignidade, mesmo diante do insuportável”. Diante da pressão da adversidade é possível encontrar e expandir a liberdade interior e crescer a partir dela.

Textos bíblicos: Fil 4,10-20; 2Cor 12,5-10.

A ação de Deus torna Paulo resiliente.
A Vontade de Deus é que sejamos resilientes, corajosos, perseverantes, constantes e jamais desistamos, já que a Deus não lhe agrada aqueles que retrocedem (Heb 10,32-39).
Deus não nos deu um espírito de timidez, de medo… Ele nos faz resilientes.