Oração de resumo (EE.64): a arte de fazer perfume
“Temos – no exercício de resumo – uma orientação de toda a série
de impulsos e aspirações que o Senhor concedeu ao exercitante
mediante os exercícios precedentes da 1ª Semana,
com uma fervorosa oração para aprofundar essas graças”.
(John Futrell)
“Resumindo”: S. Inácio propõe o Resumo como uma modalidade de oração, que alguns assemelham à repetição, mas que tem seu matiz peculiar. A Repetição tem um caráter mais subjetivo, de interiorizar ainda mais, pelo caminho da experiência, aquilo que o exercitante já começou a experimentar. Aprofundar a experiência mesma.
O Resumo tem um caráter mais objetivo, ou seja, reparar (especial atenção) no que aconteceu (“discurrir asiduamente”), percorrer com o pensamento “sin divagar”, recordando as coisas contempladas nos exercícios anteriores, inclusive na repetição.
Isso não significa “intelectualizar” ou “ideologizar” a experiência, mas compendiá-la, condensá-la, essenciá-la.
Sua finalidade principal é sedimentar a experiência.
“Sedimentar” não é “fixar” como se fixa uma realidade estática ou arquivá-la, mas como se “fixa” uma raiz, afundando-a. “Enraizar” a experiência como uma realidade viva.
Ou, mais propriamente falando, “enraizar-se nela”. Porque desta experiência deverá viver o exercitante em todo o processo dos Exercícios; e mais ainda, em toda a sua vida. E não só dela mas também nela.
O Resumo é o exercício no qual se recolhe o fruto das meditações e repetição; o entendimento, sem se preocupar com novas considerações ou novas ideias, percorre ou repassa “assiduamente” aquilo que fora experimentado nos exercícios anteriores.
Trata-se de fixar, de gravar, de “saborear” as moções e os sentimentos mais profundos vivenciados ao longo do dia. Visa penetrar de modo mais íntimo e mais profundo nos pontos ou aspectos do mistério precedentemente considerado.
Nesta simplificação gradual do método, o que S. Inácio faz é aplicar o princípio enunciado na 2ª Anotação: o importante não é o discurso que permanece na superficialidade, mas assimilar de modo íntimo e pessoal a substância do mistério.
“Discorrer” não significa simplesmente esforço mental, pois o Resumo é oração fortemente afetiva, na qual o entendimento procede por atos de contemplação.
“O Resumo é uma espécie de visão global do que já foi sintetizado anteriormente. O exercitante não se detém nos pormenores, mas deixa-se impregnar pela realidade dos fatos centrais” (Pe. Géza sj).
Com este método as conclusões práticas se afirmam mais, a convicção se enraíza mais profundamente, a vontade se fortalece plenamente e se dá ampla margem ao sentimento e ao trato íntimo com Deus.
Assim S. Inácio ajuda o exercitante a proceder na 1ª Semana:
Primeiro, ele é convidado a rezar a vida, ou seja, colher o que de misericórdia lhe foi dado.
Depois repetir, rezando as moções de consolação e desolação que teve nos exercícios precedentes.
Agora vem a oração de Resumo para colher a essência.
Podemos usar a imagem da receita para fazer perfume.
É preciso colher as flores, macerá-las cuidadosamente, deixá-las repousar na sombra, etc… até extrair sua essência odorífera e, então, criar o perfume, que, num bonito vidro, vai, discretamente, melhorar um cantinho festivo do mundo.
Na oração de Resumo, o exercitante é estimulado a parar no tema proposto, para que aproveite a sua riqueza, tendo uma visão de conjunto.
Quem faz bem a oração de Resumo, compreende sua vida como uma “história de salvação”.
Como se faz a oração de Resumo?
– Pacifique-se e entre na oração como de costume: o gesto de acatamento e reverência, a oração preparatória, a composição vendo o lugar, o pedido da graça… Então, percorra cuidadosamente o que recorda das coisas contempladas nos exercícios anteriores, fazendo os mesmos 3 colóquios.
– Isto significa: recordar (visitar de novo aquilo que o coração guardou) o que lhe foi revelado sobre a história e a realidade do pecado e da misericórdia nos exercícios anteriores. “O que Deus gravou no seu coração?”
– Reze o que esta recordação lhe sugerir, com pedidos e louvores…