“Entrar” e “sair” nos Exercícios Espirituais: caminho para a plenitude
2 de julho de 2019

“Entrar” e “sair”: aí estão a síntese, o método, a dinâmica dos Exercícios Espirituais; aí estão a experiência de viver a vida em toda a sua plenitude e de “saborear” a existência em toda a sua promessa.

Nelas estão o ritmo do andar, o desejo da busca, a estratégia para viver com sentido, o segredo do ser.

“Entrar” por inteiro e “sair” por inteiro, ou seja, viver cada momento na totalidade de seu sentido e na profundidade de sua presença.

“Entrar” e “sair” em cada evento cotidiano significa experienciá-lo por completo.

Nosso problema é que vivemos de modo incompleto. Não vivemos totalmente.

E vivemos nossa vida de modo incompleto porque vivemos cada situação de modo incompleto.

Não “entramos” por inteiros em cada situação, em cada vivência, em cada atividade… e não “saímos” totalmente de nenhuma.

Sempre de modo incompleto, sempre com hesitação, divididos entre diferentes afazeres, com um pé numa margem e outro pé na outra. Não é estranho que fique o sabor duvidoso de fazer tudo pela metade, de não nos entregar totalmente a nada, de não viver a vida em sua plenitude, porque não vivemos cada situação em sua totalidade.

Nos Exercícios Espirituais, não se “entra” de maneira apressada; é necessário todo um ritual para “entrar” totalmente. Igualmente para “sair”. Não se trata de uma saída precipitada, incompleta, aturdida, impulsionada pela impaciência, pela pressa… mas exatamente ao contrário, ou seja, “sair” em plenitude, quando o fruto da oração chegou à sua maturação e o encontro desemboca por si mesmo numa despedida.

“Sair” quando é preciso sair, nem antes nem depois; mas “sair” totalmente, com generosidade e com entrega. Avançar, progredir, crescer… sentindo a ressonância do encontro.

A experiência de “entrar” e “sair” totalmente, nos Exercícios, é preparação para “entrar” e “sair” com leveza alegre em cada circunstância da vida, para viver cada momento em sua totalidade vital.

“Uma de minhas orações matinais: Livra-me de aderências, aurora! Que hoje seja apenas hoje!” (Juan R. Jiménez).

Que hoje seja apenas hoje; e quanto mais o for na plenitude de sua mensagem e na identidade de seu momento tanto mais energia e criatividade trará para a vida e mais ousadia para construir o próprio caminho. O perigo é que hoje se torne ontem ou que hoje se torne amanhã, e entre recordações passadas e desejos futuros se passe a jornada de hoje sem ser hoje.

É a aurora do novo dia que varre os espaços interiores para deixá-los limpos e novos diante da nova realidade que surge no horizonte.

Bênção da aurora que é sempre nova, sempre cheia de luz e de vida, sempre inédita, sempre diferente.

Cada aurora é uma “entrada” em um novo dia, e para “entrar” no dia que se inicia é preciso “sair” do dia que passou.

“Nada há de tão antigo sob o sol. Tudo ocorre pela primeira vez, mas de um modo eterno. Aquele que está lendo minhas palavras está inventando-as” (Jorge Luiz Borges).

Suprema atitude diante da realidade, que dá vida a cada acontecimento, revaloriza cada instante, transcende o tempo e beira a eternidade. Quando tudo “ocorre pela primeira vez” é quando “tudo é eterno”.

Assim todos somos poetas, todos somos místicos, todos inauguramos o paraíso e todos estreamos a eternidade. Aqui está toda a dignidade, toda a nobreza, toda a aventura e toda a promessa do ser humano.

Não existe mais nada além do fato presente. Faça o que faça, faça-o completamente, sem pressa, com tranquilidade, de tal modo que a mente e o coração se saciem e fiquem contentes.

Somente então passe ao momento seguinte.

“No ponto em que achar o que quero, ali me repousarei, sem ter ânsia de passar adiante até que me satisfaça” (EE. 76).

Jesus nos ensinou a pedir “o pão nosso de cada dia”, devolvendo nosso olhar e nossa solicitude ao momento presente, confiando em sua providência permanente para o que nos espera amanhã.

“Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã: o dia de amanhã se preocupará consigo mesmo” (Mt 6,34)

A nossa existência, muitas vezes, se dispersa em seu percurso e andamos em mil pedaços por horizontes passados e futuros, em vez de viver em unidade e consciência no único ponto do tempo e do espaço em que estamos e no qual vivemos.

Discípulo: “Quando poderei ir para casa?”

Mestre: “Onde você está agora?”

Minha casa é onde estou, quando vivo plenamente onde me encontro em qualquer momento, quando estabeleço contato com tudo o que está ao meu redor, quando não sou estrangeiro nem hóspede em nenhum lugar, pois o mundo é o meu lar, o momento presente é minha existência.

Até quando estarei vivendo em um lugar e almejando outro?

Estou onde estou. Vivo onde vivo. Esta é a minha casa.

Nunca estamos à vontade, simplesmente porque nunca “estamos”.

Isto é, nunca estamos tal como somos; e nunca “entramos” integralmente onde estamos.

E ao não estar totalmente não agimos totalmente. Fazemos tudo de modo incompleto, pela metade.

Nunca há a satisfação de deixar-se levar, de entregar-se, de ir fundo, de completar.

E sem “ir ao fundo” não se ganha impulso para voltar à superfície.

O caminho de nossa vida entra em colapso, pois não sabemos para onde vamos porque não sabemos onde “estamos”.

Para saber “estar” temos de saber “entrar”.

E para poder “entrar” temos de saber “sair”.

“Entrar” e “sair”: esse é o ritmo vital de nossa existência.