Cine Fórum
13 de agosto de 2019

Filme: Banhos

por Adriano Zumba

 

Banhos” é um filme que trata de relações familiares, tendo como pano de fundo uma prática secular na China, bem como em outros países orientais, como o Japão: frequentar casas de banho, que são locais destinados a promover banhos coletivos e proporcionar socialização entre as pessoas, como mostrado no filme – tem até briga de grilo para nossa alegria.

A sinopse, retirada da internet e com adaptações, é a seguinte: “Abandonado por Da Ming – seu filho mais velho, que foi para Shenzhen no intuito de tentar uma melhor sorte –, um pai de família, Liu Ming, fica em Pequim cuidando do seu filho mais novo, Er Ming, que tem problemas mentais, e exercendo a profissão de mestre de na casa de banhos administrada por sua família. Repentinamente, Da Ming retorna e descobre a importância do empreendimento familiar para a comunidade. Absorvido pela “cultura do chuveiro”, por estar vivendo em uma grande metrópole, ele tem que enfrentar um dilema: encarar as responsabilidades da família ou continuar imerso em sua própria e egoísta vida.”

Uma pessoa sempre deve buscar o melhor para si, porém, há de se pesar os impactos de suas escolhas, principalmente entre seus entes queridos, os quais normalmente a rodeiam e participam das mais diversas formas de sua vida. Na narrativa, há uma família apenas de homens – a matriarca é falecida –, cujo patriarca luta pela sobrevivência em sua casa de banhos e carrega o fardo de cuidar de um deficiente – algo que, diga-se de passagem, ele faz com muita competência e amor. O referido “abandono”, como visto na sinopse, de Da Ming é a fonte dos conflitos entre ele e seu pai, pois gera muito rancor no coração do velho Ming, por perder a presença constante de seu filho e uma ajuda importante na administração de seu negócio e nos cuidados com seu filho mais novo. O mote narrativo gira em torno de uma potencial reaproximação entre os dois e da cura de feridas do passado, que insistem em não cicatrizar. Secundariamente, vemos as peripécias de Er Ming, que concedem muita comicidade à trama. Notem que esse suposto abandono pode perfeitamente ser interpretado de outra forma, como, por exemplo, a busca de melhores condições de vida, apesar de o negócio da família já prover condições suficientes de subsistência. O espectador deve julgar o mérito da questão de acordo com a ótica do pai, do filho ou de ambos.

Outra temática de fundamental importância na narrativa é a perda das tradições com o passar do tempo. Esse sim é um abandono real! São anomalias do desenvolvimento tecnológico, que, cada vez mais, proporciona facilidades às pessoas e a imediata rejeição de objetos, tradições e pensamentos do passado, que acabam sendo considerados apenas para preservar a história. O ser humano sofre um gradual, constante e natural processo de evolução, como visto na história da humanidade. A tecnologia acelera esse processo, de modo que o passado assume um papel nostálgico – e até romântico – na vida das pessoas, porém, no caso concreto do filme em tela, significa sobrevivência – e não só pelos recursos financeiros gerados, mas por uma dependência emocional por parte do mestre Liu. Como informação, as casas de banho sobrevivem até hoje na China.

Banhos” é um filme cujo argumento principal é desenvolvido de forma bastante singela, para que o espectador enxergue a importância suprema que a família tem na vida das pessoas. Conectar-se fortemente àqueles que nos amam é uma excelente forma de buscar a felicidade, e considerar o passado como uma forma de enxergar o futuro reaviva boas lembranças, as quais têm o condão de afagar nossos corações. Para quem acha que a China só tem os filmes de Zhang Yimou, eis uma ótima recomendação.

O trailer não é muito bom, pois não mostra o sentido narrativo do filme.  Mostra apenas a primeira cena, que é a visão de um inventor, também personagem da história, em relação a uma casa de banhos moderna. Segue abaixo para quem se interessar. Melhor assistir ao filme, pois o trailer é muito pobre de informações.