21 – Segredos da solidão que o silêncio vem contar
“O silêncio é o tempo do desejo. Quem ama deseja
e quem deseja, sabe que as palavras não explicam o mais importante”
(M. Barros)
A solidão é para poucos; ela não é democrática. Não é um direito universal.
Para ser um direito de todos teria de ser desejada por todos. Mas são poucos os que a desejam.
A maioria prefere a agitação dos lugares onde se fala o que todos entendem.
“Por mim e por vós, e por mais aquilo que está onde as outras coisas nunca estão, deixo o mar bravo e o céu tranquilo: quero solidão. Que procuras? Tudo. Que desejas? Nada. Viajo sozinha com o meu coração. Não ando perdida, mas desencontrada. Levo o meu rumo na minha mão. Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra. (Beijo-te, corpo meu, todo desilusão! Estandarte triste de uma estranha guerra…) Quero solidão!” (Cecília Meireles)
Quem crê aprende a conviver com a solidão. Descobre que sentir-se só pode ser algo terrível, destruidor do próprio ser, mas também pode ser um desafio criador de vida nova.
A solidão pode ser inimiga mortal, mas também poder ser uma valiosa aliada.
“É necessário uma solidão para que haja uma liberdade de começo. Só os seres humanos que se relacionam bem com a solidão se põem num terreno no qual a relação com o outro torna-se possível” (E. Levinas)
A solidão, na qual alguém se deixa alterar pelo Outro é o começo da fraternidade na qual o outro aparece, por sua vez, como solidário de todos os outros.
Assim como o amor é gerado na comunicação, mas engravidado no mais íntimo do coração, também a fé “vem pelo ouvido” (Rom 10,17), mas se forma no íntimo da solidão de cada crente.
A Aliança de Deus com seu povo foi tecida no deserto do Sinai.
É no deserto e na experiência do silêncio que o profeta reencontra o Senhor (1Reis 19,12). Quando Israel afasta-se da Aliança, o Senhor promete: “Eu o atrairei ao deserto e lhe falarei ao coração” (Os 2,14). É no deserto que o Senhor abre um caminho para o povo retomar um novo Êxodo (Is 40,31).
Quando, nas profundezas do nosso interior, as palavras nos faltam e o silêncio é total, lá, e somente lá, o Espírito de Deus se faz ouvir (Rom 8,26).
Exercitando-se na solidão, o ser humano aprende a “habitar consigo mesmo” (S. Gregório Magno).
Não há solidão sem silêncio. Não se trata apenas de ficar calado.
O verdadeiro silêncio não pode ser mutismo ou fechamento interior.
Para quem crê, o silêncio é, sobretudo, atenção à Palavra de Deus escutada no próprio coração.
O silêncio interior exige, antes de tudo, esquecimento de si mesmo.
Quem fica preso a si mesmo, não fica em silêncio.
Para que a nossa solidão seja habitada e o nosso silêncio fecundo, devemos nutrir com as pessoas que nos cercam um clima de veracidade no qual a sinceridade e a delicadeza com o outro se harmonizem.
Por isso, a “melhor moldura do silêncio é a comunhão e a solidariedade.
Para a oração:
1. Procure um lugar adequado à sua pessoa e situação interior atual.
2. Dê-se um tempo de recolhimento, para aquietar-se íntima e profundamente. Procure tornar-se sempre mais consciente de que está entrando na presença de Deus de um modo especial, unificado e mais intenso.
3. Peça ao Senhor a graça, o dom que você precisa e/ ou que Ele lhe reserva sem que você o saiba.
4. Textos bíblicos: Mt 6,5-15; Eclo 51.
5. Mais do que discorrer ou falar por si mesmo, deixe que o Espírito reze através de você. Oração não é produção quantificável. Tenha certeza de que Deus está presente e é um interlocutor vivo.
6. Demore-se e detenha-se onde quer que sinta a ação de Deus e/ ou algum movimento interior.
7. Vivencie sem pressa e saboreie internamente o dom do Senhor.
8. Acolha, considere e conserve no coração a presença, a palavra e a ação do Senhor, como fez Maria.