3 – A liderança de Inácio de Loyola
“… e viu que sozinho não podia realizar tanto fruto”.
(Nadal, FN II,202)
Desde os primórdios de sua conversão, um desejo constante habita o coração de Inácio: compartilhar com outros o que ele viveu e quer viver para o futuro.
Sua opção se apresenta como algo irresistivelmente contagioso; muitos vem procurá-lo atraídos por seu estilo de vida; com seu temperamento forte ele não pode deixar indiferentes as pessoas que o cercam; exerce sobre elas um grande fascínio; é um líder nato, em torno do qual as pessoas se reúnem espontaneamente. Mestre na “arte de conversar”, o peregrino sempre se mostra comunicativo; qualquer oportunidade é boa para falar de Deus, refletir, questionar, animar, mover as pessoas…
Nas “conversas espirituais” inauguradas em Loyola, em sua correspondência, nos Exercícios Espirituais, Inácio não impõe a sua experiência pessoal. Há um segredo em sua capacidade de convencer e aglutinar pessoas: a identificação com Jesus Cristo, em suas atitudes, opções, valores…
Na sua viagem à Terra Santa, ficou muito marcado em seu interior a imagem do Cristo companheiro, que chama a trabalhar com Ele. Em cada canto daquela terra ele entrevia Jesus, ocupado em estabelecer o Reino. E não estava só, mas com o grupo dos Apóstolos, companheiros de Jesus e companheiros entre si.
Voltando de Jerusalém, Inácio decide estudar para melhor servir a Deus e aos homens. Dirige-se à universidade de Paris, onde se encontra no centro de um vasto leque de relações humanas de todo tipo. Ao redor dele se formará a primeira comunidade que buscará viver o ideal apostólico, no serviço do Reino.
Que fazia o peregrino para “seduzir” tantas pessoas, atraindo-as para uma vida mais evangélica?
O que foi decisivo na constituição do primeiro grupo (“amigos no Senhor”) é justamente o contato pessoal de Inácio com cada um, iniciado quiçá ocasionalmente, mas que se desenvolveu e se aprofundou pouco a pouco.Trabalhando como escultor, com fé e perseverança, naquela montanha universitária, não tardou em descobrir jovens estudantes e mestres de viva inteligência, coração generoso, têmpera de heróis e vontade decidida de trabalhar pela glória de Deus. Inácio não buscava gênios, mas pessoas retas, decididas, movidas por um ideal.
A arte de Inácio para “ganar las voluntades” converte-se numa tática habilidosa: ter verdadeiro e sincero amor àqueles a quem ajudava, mostrando-os com palavras e obras… despertando a confiança das pessoas… conformando-se com suas condições e condescender naquilo que não era contra Deus…
“Sempre inclinado para o amor”, apaixonado por Deus e pela atuação d’Ele no coração dos homens, Inácio sonha em fazer com que os outros participem deste Amor pelo qual ele se deixou invadir por inteiro, aceitando caminhar longamente com cada um.
Inácio tinha um trato especial com todos e cada um deles; ele era o companheiro-guia que exercia um suave magistério e liderança, firme e seguro.
Chama-nos a atenção como Inácio respeita e protege a liberdade da pessoa. Não se impacienta, dá tempo ao tempo, ou melhor, conforma-se com os prazos de Deus.
Inácio não exclui ninguém, não manifesta qualquer reticência a respeito de ninguém; não impõe a escolha; a decisão de cada um é algo pessoal, espontâneo, tomado diante de Deus.
Os primeiros companheiros são todos homens de fibra, cultura, caráter… tão diferentes quanto possível.
Mas o que os congrega e os anima não é a grata e confortável harmonia dos temperamentos, mas um “espírito”, um projeto comum, um mesmo amor, uma só pessoa: Jesus Cristo.
Aos companheiros que aceitam compartilhar seu sonho e sua luta, Inácio os estimula, os ajuda a atingirem o máximo de suas possibilidades; em compensação, eles passam a ser para ele, de certo modo, pessoas sagradas. Guarda-lhes tanta fidelidade quanto a si próprio.
Não era Inácio condutor de massas ou multidões, mas de indivíduos. Conhecia por intuição a psicologia humana e tinha do dom de “trabalhar” as pessoas. Com todos entabulava primeiro uma conversação exterior e logo também a “interior”, sabendo entrar e conduzir a cada um com magistral destreza e delicadeza, segundo as pessoas e as circunstâncias. Possuía a arte de conhecer os afetos e inclinações de cada um; através da conversação Inácio exorta, anima, comunica, corrige, consola… busca o bem mais universal… dava às pessoas “forma e modo” de conhecer a Vontade de Deus. Esta maneira de proceder de Inácio brota de um profundo respeito à ação de Deus no interior das pessoas. De fato, sua conversação se desenvolve na mobilidade.
De fato, sua conversação se desenvolve na mobilidade e liberdade vital do Espírito Santo.