13 – Inácio de Loyola:
“desvio” da nobreza para a “margem”
Aquele que “desce” às margens, também se aproxima da terra privilegiada do encontro com Deus, que se nos manifestou em Jesus de Nazaré.
Conversão quer dizer mudar de rumo, começar a caminhar em outra direção.
S. Inácio tinha sido educado com êxito nos “caminhos ascendentes” da nobreza; Loyola, o palácio do contador maior do Rei, em Arévalo, e o castelo do duque de Nájera, são etapas deste itinerário.
Com a ferida de Pamplona e a convalescença em Loyola, todo o projeto de Inácio ficou estancado na solidão imóvel de seu quarto de enfermo. A leitura da vida de Cristo e dos santos introduzem uma suspeita sobre o seu passado. Começa a “dobrar” a cabeça e a olhar para “baixo”, para os caminhos por onde Jesus pobre e humilde de Nazaré tinha anunciado o Reino, e por onde muitos outros santos passaram em seu seguimento.
Na luta interior entre os sonhos que se alimentam de seu passado e as imagens novas que caminham com pés descalços pelas sendas estreitas, aprende a distinguir os espíritos e esboça os primeiros rudimentos sobre o discernimento.
Curado de sua ferida, re-orienta sua vida para os “caminhos descendentes” nos quais era um simples aprendiz de peregrino. “Desviou-se para um povoado chamado Manresa…” (Aut. 18), onde se encontra com a pobreza histórica dos pobres; o hospital, sua maneira de vestir, os mendigos com quem compartilhava caminho e alimentos… o situam no “abaixo” da marginalidade.
Na pobreza e na contemplação, num processo de escrúpulos desesperante, à beira de sua resistência física e psicológica, no desconcerto interior, nas fronteiras íntimas e sociais de sua existência, sentado às margens do pequeno rio Cardoner, o Senhor o alcançou gratuitamente com uma “ilustração” tão grande, que será um ponto de referência para sua vida.
“Todas as coisas lhe pareciam novas…
“Parecia-lhe como se fosse outro homem e tivesse outro entendimento” (Aut. 30).
“Começou a ver com outros olhos todas as coisas”.
Os caminhos percorridos a pé, o hospital e o cárcere de Alcalá, o cárcere de Salamanca, o hospital de Saint Jacques em Paris, as ruínas do mosteiro de S. Pedro de Vivarolo em Veneza, a austera habitação em Roma… foram a geografia de um itinerário interior no qual S. Inácio foi aprofundando a experiência de Deus. Esta, por sua vez, o faz caminhar em direção ao mundo dos pobres.
O pobre lhe oferece o vocabulário para “ler” a revelação de Deus no pobre Jesus, e Jesus lhe oferece a possibilidade de contemplar a presença de Deus no pobre.
Esta experiência original de S. Inácio está contido nos Exercícios Espirituais. Estes sempre demonstram ser uma fonte nova de visão e motivação para o serviço em favor do empobrecido e da justiça.
Uma profunda experiência dos Exercícios nos faz “virar a cabeça” e dirigir nosso olhar para as “margens”, para as “periferias” da história… comprometendo-nos com os prediletos de Deus.
Nesta perspectiva, o encontro de Jesus com a mulher samaritana é sumamente expressivo e de uma força comprometedora indiscutível. Jesus encontra a mulher no seu cotidiano. No diálogo que se estabelece, a mulher é levada a sair dos seus caminhos trilhados, a tomar consciência de sua verdade, a rever as suas opções, a re-orientar a própria vida.
No episódio evangélico do poço de Jacó, a ação de Jesus se revela “excêntrica” com relação aos sistemas, poderes e costumes de seu tempo, e isto numa dupla dimensão:
– o centro, para Jesus, está nas margens,
– os marginalizados e excluídos são trazidos por Ele para o centro.
Jesus derruba as barreiras da religião e raça. A revelação messiânica se expande como o sol do meio-dia e atinge a todos, sobretudo aqueles de “má-fama”. O Reino encarna-se na história dos pequenos e desprezados. O vinho novo faz arrebentar os odres velhos.
A samaritana rompe o silêncio e sua palavra é a ponte que conecta com a Fonte primeira; abandona o cântaro e vai à cidade; deixa seus velhos hábitos; faz-se testemunha…
Textos bíblicos: Jo 4,1-12; Jo 8,1-11; Dan 3; Lc 7,36-50; Mc 12,21-28.
Na oração:
– examinando a sociedade, sentindo de perto os seus problemas e desafios, que esperança você carrega?
– você tem experiências de voluntariado, de solidariedade e de compromisso com os mais excluídos?