12 – Inácio de Loyola: “cavaleiro andante do Divino”
“Se há algum homem representativo de minha raça, é Iñigo de Loyola,
o fidalgo guipuzcoano que fundou a Companhia de Jesus,
o cavaleiro andante da Igreja, o filho da tenacidade paciente”
(Unamuno – escritor espanhol)
“A Universidade de Barcelona ao Mui Reverendo Padre Mestre Inácio de Loyola, Prepósito Geral da Companhia de Jesus, saúde.
Quantas vezes te medimos com tuas obras e trazemos à memória as (obras) da antiguidade, nos parece em grande maneira beatíssimo, porque Cristo te escolheu para continuar em seu Reino aquele ímpeto espiritual e aquele gênero de vida, com que podes sustentar firmemente os velhos edifícios eclesiásticos, que se arruinavam por sua mesma antiguidade e pelo desleixo dos arquitetos, e para levantar felizmente outros novos e numerosos.
Isto é o que fizeram antigamente Antonio e Basílio, Bento e Bernardo, Francisco e Domingos e outros muitos ilustres varões, aos quais prestamos culto e veneramos entre os santos e sempre que os nomeamos o fazemos honorificamente.
Dia virá – assim o esperamos e o prognosticamos – que também tu serás invocado por tuas grandes obras e os anseios dos homens, e em todo o mundo tua memória será sacrossanta”.
(Documento de maio de 1555,
escrito pelo Reitor e professores da Universidade de Barcelona,
e enviada a S. Inácio um ano antes de sua morte).
S. Inácio de Loyola foi um homem universal: basco, castelhano, catalão, parisino, veneziano, romano e europeu. Seu coração era tão grande como o mundo, sempre livre para a maior glória de Deus. Suas preocupações e suas cartas estão cheias de nomes de toda a geografia universal até então conhecida, desde o Congo ao Brasil, desde Espanha até a China ou Etiópia.
O basco Inácio de Loyola alcançou sua plenitude humana e divina precisamente porque foi capaz de abrir-se à universalidade de todas as terras, de todos os povos e de todos os homens, sem distinção de raças nem exclusão de ninguém.
Foi norma sua que “o bem quanto mais universal, mais divino”.
Iluminado pela luz divina, faz-se peregrino de Deus.
Peregrinar é avançar pelos caminhos do mundo, conhecer povos e costumes, escutar ideias novas e opiniões diferentes, sentir-se solidário com outros caminhantes.
Assim se dilataram infinitamente seus horizontes.
Após sua conversão, num hábito roto e num estilo de vida que parece ter assimilado das profundezas das cruzadas, o peregrino Iñigo lançou-se na viagem mais imprevisível: parte para Jerusalém, mas teve um encontro marcado muito além, com uma nova humanidade, com um mundo aberto e sem limites, com a consciência da liberdade audaciosa, com um ambicioso projeto cuja realização contará com sua contribuição…
Em Paris se pôs em contato com estudantes de todas as províncias da Europa e ainda do Egito.
Ali se matriculou com um nome novo, no dizer de Ribadeneira, “por ser mais universal”: Inácio.
Assim, o desvairado peregrino surgido da Idade Média, o “home del sac”, é, embora ainda não saiba, o esboço de um homem dos tempos modernos. O mendigo de Deus torna-se um homem em busca de edificações humanas, mais tarde um virtuoso da arte do possível.
Apaixonado pelo humanismo em que julga descobrir um caminho de acesso ao coração das pessoas, Iñigo Lopes de Oñaz y Loyola torna-se um precursor dos tempos modernos.
“Cavaleiro andante de Deus”, nos recorda o patriarca Abraão, o grande peregrino da fé, deixando-se levar pelos longos e imprevisíveis caminhos por onde o conduzia a mão de Deus, ao qual seguiu passo a passo até o fim de sua vida, tão surpreendente para ele mesmo.
Os caminhos que Inácio percorria, quase sempre com os pés descalços, estavam orientados e imantados pelo itinerário de sua fé, caminhos por onde a Vontade de Deus o conduzia.
Desde sua “mudança” em Loyola, Inácio não tem outro norte que seguir: servir e amar a Cristo, ainda que não soubesse nem como nem por onde. Docilmente, deixando-se levar, vai descobrindo o grandioso projeto que Deus lhe havia preparado desde a eternidade, e que agora ia se desvelando dia a dia e passo a passo. Em cada esquina e em cada encruzilhada, só buscava a Vontade de Deus, tanto nos grandes como nos pequenos acontecimentos.
Texto bíblico: Gen 12,1-10.