9 – “…e viu que sozinho não podia realizar tanto fruto”
A experiência de Deus vivida por S. Inácio fez dele um revolucionário do espírito.
A conversão significou para ele uma integração de forças dispersas de seu interior, projetando-o para fora, para os outros, numa direção nova.
Sua rica interioridade não é solitária, mas é habitada pela presença divina e pelo desejo de realizar “grandes coisas” pelos outros. Na Autobiografia, Inácio narra como a Graça o foi transformando num homem aberto às necessidades dos outros.
Desde os primórdios de sua conversão, um desejo constante habita o coração de Inácio: compartilhar com os outros o que ele viveu. Sua opção se apresenta como algo irresistivelmente contagioso: ele “seduz”, ganha a simpatia, a amizade, a admiração das pessoas pela comunicação apaixonada e serena de sua experiência de Deus. Convence, comove e converte pela firmeza e profundidade de suas convicções, pela autenticidade de suas palavras e de sua conduta, pela irradiação de sua vida espiritual.
Com sua presença “fermenta” o ambiente e “transforma” as pessoas…
Há um segredo em sua capacidade de convencer e aglutinar pessoas: a identificação com Jesus Cristo.
Em sua viagem à Terra Santa, S. Inácio ficou muito marcado com a imagem do Cristo companheiro, que o chama a trabalhar com Ele. Em cada canto daquela terra entrevia Jesus ocupado em estabelecer o Reino. E não estava só, mas com o grupo dos Apóstolos, companheiros de Jesus e companheiros entre si.
A exemplo de Jesus que forma seus doze apóstolos e os envia a evangelizar, Inácio envida todos os esforços para constituir uma comunidade de ideal e de missão. Em Paris, não tardou em descobrir jovens universitários e mestres de viva inteligência, corações generosos, têmpera de heróis e vontade decidida de trabalhar pela glória de Deus. O que une seus primeiros companheiros é a mesma experiência de Deus, a partir do seguimento de Jesus e a missão comum que assumem.
Eles prolongam, no seu tempo, os gestos de Cristo, ajudam os homens a viverem a fé na bondade do Pai, a esperança da comunhão plena, o amor que liberta e constrói.
Uma comunidade inaciana não é fim em si mesma; é comunidade apostólica, voltada para os desafios da Igreja e do mundo. Estamos diante do desafio de viver mais plenamente nossa identidade de “homens e mulheres para e com os demais”.
Sendo o bem tanto mais divino quanto mais universal, requer-se uma parceria e colaboração de todos num projeto comum; tal cooperação encontra sua raiz na consciência de que preparar nosso mundo complexo e dividido para a vinda do Reino requer uma pluralidade de dons, experiências, capacidades, ministérios…
Não somos meramente companheiros de trabalho; somos “amigos no Senhor”.
Impulsionados pelo espírito inaciano não podemos ficar satisfeitos com o status quo, o conhecido, o já provado, o já existente. Sentimo-nos constantemente levados a descobrir, redefinir e buscar o MAGIS.
Para nós, as fronteiras e os limites não são obstáculos ou ponto de chegada, mas novos desafios a encarar, novas chances que nos impulsionam a um contínuo crescimento.
Com efeito, é característica nossa uma santa audácia, uma certa agressividade apostólica…
“A mediocridade não encontra lugar na cosmovisão de Inácio” (P. Kolvenbach)
Passos para a oração
l. Coloque-se na presença do Deus da vida, do seu olhar de bondade…
2. Tome uma posição corporal adequada e pacifique seu interior.
3. Recorde como Deus dá existência a tudo, sem desprezar nada do que fez. A menor das criaturas é querida por Ele.
4. Peça a graça de passar este tempo de oração com toda a sua imaginação, memória e querer voltados para Ele.
5. Texto bíblico: Col 3,12-17.
– leia-o saboreando as palavras, deixando-as “cair” no fundo do coração;
– aqui encontramos os traços característicos da verdadeira comunidade cristã.
6. Faça uma pequena avaliação e responda no seu caderno:
– quais foram os sentimentos dominantes que acompanharam sua oração?