22 – Vida inaciana: homens e mulheres de Igreja
“Quero contribuir para sentir na Igreja aquela mãe-irmã engajada,
uma Igreja que se apresenta muito ligada à atualidade dos problemas e desafios,
testemunha de uma fraternidade sem fronteiras,
com uma atitude profética em meio aos novos rumos que a história vai tomando
e alegremente comprometida com os anseios e possibilidades do mundo moderno”.
(F. Cláudio Van Balen)
De acordo com a experiência de S. Inácio, quem faz adequadamente os Exercícios, fica profundamente “eclesializado”. O principal, para S. Inácio, é que o exercitante não só se sinta Igreja individualmente, mas perceba que sua vida e missão formam parte da Igreja. A pessoa movida pelo magis não pode permanecer indiferente nem inerte diante dos problemas que afetam a sorte do povo de Deus. A liberdade interior e o amor à Igreja constituem a atitude típica da pessoa inaciana.
A Igreja, nos Exercícios, é desenvolvida a partir da experiência do mistério de Cristo. É Ele o Senhor, o “internamente conhecido, amado e seguido”, com seu chamado planta a Igreja em cada coração filialmente configurado por com seu Espírito. O exercitante descobre n’Ele o centro de sua vida e Ele vai levando-o à Igreja, como os seus primeiros discípulos. Essa identificação progressiva com Ele desemboca na comunidade eclesial. Por isso, a Igreja é o lugar dos identificados com Cristo.
Ser de Cristo, trabalhar para Cristo, é não só ser da Igreja, senão ser Igreja, sentir-se Igreja.
No fim dos Exercícios, S. Inácio propõe as “Regras para sentir com a Igreja”, para sustentar e desenvolver, no coração do exercitante, a comunhão eclesial.
“Todo o movimento dos Exercícios deve levar a um crescimento pessoal e a uma união de vida com a Igreja. Elas (as Regras) poderão ajudar-nos a aprender com a Igreja, na Igreja e pela Igreja, a maneira de viver, como adultos, nossa fé, nas condições, culturas e linguagens próprias do final deste século”. (P. Kolvenbach).
A atitude eclesial deve ser encontrada através do discernimento, já que se trata, em última instância, de captar e obedecer ao Espírito Santo. Este discernimento se refere ao marco fundamental: “meu ser Igreja”.
Que Igreja somos, que Igreja queremos ser?
– A Igreja do futuro anuncia-se mais plural que uniformizada. A “pluralidade” vem da diversidade de experiências; brota de um Espírito maior que a instituição.
A “pluralidade” implica enorme dimensão de misericórdia, de tolerância.
A “pluralidade” vê-se desafiada em construir, na liberdade e consciência, a unidade na diversidade.
Caberá ao Espírito Santo, na Igreja do futuro, coser com a linha do amor misericordioso a unidade plural das comunidades, das experiências pessoais.
– A Igreja do futuro será mais mistagógica (marcada pelo Mistério) que catequética, mais simbólica e estética que intelectual e doutrinal. Aparecerá cada vez mais importante para as pessoas o Mistério de Deus, da Trindade. No centro estará a preocupação de que as pessoas se encontrem com e no Mistério de Deus. Para tal, os símbolos, os sinais, as liturgias, a arte, a música, a beleza, o canto, os ritmos, os ambientes, que favoreçam tal contato com o Mistério, exigirão mais atenção, cuidado, esmero…
– A Igreja do futuro deverá viver sempre mais o compromisso com o crescente mundo dos excluídos.
Caminha-se, pois, para uma Igreja mais solidária que corporativista. Mais preocupada com o bem da humanidade que com o seu próprio. Mais voltada para o sofrimento dos seres humanos que preocupada em defender seus ritos próprios.
Uma Igreja voltada para o Mistério, sem compromisso, perder-se-ia na alienação. Uma Igreja voltada para o compromisso, sem o cultivo do Mistério, não responderia à sede de sagrado do ser humano.
– A Igreja do futuro deverá ser uma Igreja servidora, em estado de parceria, sempre disposta a ampliar e aprofundar suas verdades e valores, assumindo sua tarefa básica de reler no processo da história e no mistério de Deus o que melhor pode servir à vida e promover a convivência.
Uma Igreja que ao encarnar a mensagem do Evangelho, mostrar-se-á capaz de um diálogo acolhedor; ao ser mais receptiva, deixar-se-á tocar pela verdade dos outros e humilde, se reconhecerá aprendiz de uma permanente revelação.
Textos bíblicos: Lc 24,36-43; Jo 21,1-14; Mc 16,9-14; Col 3,1-17; Ef 4,1-16; At 2,41-47.