19 – Comunidade inaciana: “Amigos no Senhor”
“No encontro com minha comunidade descubro o meu rosto”
Apaixonado por Deus e pela atuação d’Ele no coração das pessoas, S. Inácio sonha em fazer os outros participarem plenamente deste amor, pelo qual se deixou invadir por inteiro, aceitando caminhar longamente com cada um, para que, ao final, abrisse o coração à ação de Deus.
A exemplo de Jesus que forma seus doze apóstolos e os envia a evangelizar, S. Inácio emprega todos os esforços para constituir uma comunidade de ideal e de missão.
O fundamento é que Deus Criador é Amor Trinitário, é comunhão de Pessoas (Pai-Filho-Espírito Santo). Como criaturas, fomos atingidos pela marca trinitária de Deus.
Como homem e como mulher, trazemos esta força interior que nos faz “sair de nós mesmos” e criar laços, fortalecer a comunhão…
O ser humano não é feito para viver só; ele necessita con-viver, viver-com-os-outros.
A fraternidade, a vida em comum se mede pelo amor, por atos e gestos de doação, por vivências de comunhão, por experiências reais de partilha…
O ser humano é um ser constitutivamente aberto, essencialmente em referência a outras pessoas: estabelece com os outros uma interação, entrelaça-se com eles, e forma um nós: a comunidade.
As duas realidades – pessoa e comunidade – não se opõem, mas se condicionam e se complementam.
“A pessoa faz a comunidade e a comunidade faz a pessoa”
O sentido da vida em comum é um dom de Deus, que nos foi dado a todos.
O sentido do termo comunidade nasce da experiência profunda e radical da vocação cristã, à qual foram chamados os seus membros pelo batismo. A comunidade é uma experiência concreta de unidade no amor e na ação; ela será o sacramento do amor de Cristo a todos os seus membros.
A comunidade inaciana é uma comunidade que vive o espírito dos Exercícios, para encontrar e aceitar a Vontade de Deus na missão (serviço); ela é o âmbito adequado para chegar a personalizar a fé e a vivê-la em con-vocação e co-responsabilidade com os outros; ela é o lugar extrema-mente válido para a formação, na espiritualidade inaciana, de cristãos comprometidos com sua fé e com a evangelização de seu meio.
A personalidade inaciana tem que ser também promovedora de “corpo” – que para S. Inácio é a experiência da comunidade.
Uma pessoa inaciana não é uma “personalidade isolada” mas aberta à comunhão e partilha com outros.
Uma comunidade inaciana não é um fim em si mesma. Ela deve ser comunidade aberta, apostólica, reunir para o serviço todos os que, nas pegadas de Inácio, querem unir-se para trabalhar com Jesus, seguindo-o de perto, na condição laical.
Uma comunidade inaciana é uma comunidade “conspiratória”.
Conspiração, palavra bonita de origens esquecidas.
Conspirar, com-inspirar, respirar com alguém, juntos.
Conspiradores: respira o mesmo ar, o mesmo sonho, a mesma utopia do Reino.
É esta a origem e a finalidade de cada comunidade inaciana: ser companheiros de Jesus na sua missão, associar-se para responder melhor ao chamado do Rei Eterno, viver como comunidade de apóstolos no mundo.
O caráter apostólico, o senso de universalidade e o enfoque eclesial, tão característicos da tradição inaciana, pedem uma expressão comunitária que, mesmo respeitando o princípio da encarnação em realidades concretas e diversas, abre a pessoa para a complexidade dos problemas do mundo e da Igreja, impulsionando-a a ultrapassar os limites geográficos, afetivos, sociais, de idade e de liderança.
Textos bíblicos: Col 3,12-17; Rom 15,1-9; 1Jo 4,7-16; 1Cor 12,12-30; Gal 5,13-26.
Na oração:
Olhar cada um das pessoas da sua comunidade; dá-se conta daquilo que sente para com cada uma delas, como as trata, como reage diante delas… Vê-las com os olhos do coração.
Contemplar o rosto de cada um da sua comunidade, sem exigir-lhe nada em seu modo original de ser, de atuar, de pensar, de falar…
Observar e descobrir, em cada membro da sua comunidade, seus valores, suas riquezas, sua profundidade. Lentamente, mas com um olhar sereno e profundo… tentar descobrir “algo mais” presente em cada pessoa.