12 – Ser inaciano: busca do maior serviço
Se se pode afirmar que Inácio é o homem da “maior glória de Deus, esta afirmação é inseparável de outra: a de que ele é, ao mesmo tempo, o homem do “maior serviço divino”. A glória de Deus, que é o fim último, contém em si o serviço e lhe imprime seu sentido e sua transcendência.
A glória de Deus e o serviço ao próximo são na realidade um só e único fim.
Por isso, nos escritos de Inácio a idéia de glória é quase sempre associada àquela de serviço aos homens.
Este serviço, para ele, tem algumas características que o distinguem e o especificam: é um serviço maior, total, totalizante, sem fronteiras, nunca diz “basta!”.
“Estar com Jesus para servir”: este será o ardente desejo que inspirará toda a vida de Inácio e mobilizará todas as suas forças. Ele será o homem do “maior serviço”, que se manifesta por sua urgência, transcendência, universalidade, fecundidade. O afã de servir a Deus com perfeição produz uma força interna que o estimula a ir sempre caminhando e crescendo. É o serviço próprio de um “peregrino” que nunca se cansa nem se satisfaz com o que já realizou, mas sempre se reavalia e se interroga, buscando o que mais corresponde à divina Vontade de seu Senhor.
É um serviço maior por ser um serviço a um Deus sempre maior. E por ser um serviço a um Deus que é Amor, será um “serviço amoroso”, realizado por amor. O serviço divino inaciano é um muito servir, um servir sempre mais, mas na gratuidade de um puro amor. No entanto, esse “serviço maior” terá de ser descoberto no menor, no pequeno e insignificante. É o serviço do cotidiano, como colaboração na construção do Reino.
A pessoa que passa pela experiência dos Exercícios, sente brotar em seu coração o afã apostólico, o desejo de corresponder à graça de Deus através do melhor serviço.
A busca do “maior serviço”, da “maior glória de Deus”, impede a pessoa inaciana de instalar-se num lugar determinado, numa atividade fixa. Há sempre o perigo de, ao encontrar um serviço, julgar já ter encontrado a vontade de Deus.
Mas ela deve ter uma atenção contínua voltada para o que está acontecendo em cada instante e estar vigilante para verificar se tal atividade continua sendo o melhor serviço ou não.
A vocação inaciana ao serviço é essencialmente dinâmica, aberta, móvel, renovadora em si mesma, justamente porque é “buscadora” da Vontade de Deus que se manifesta no dinamismo da vida, no meio das múltiplas relações…
O leigo inaciano, na sua atitude de vanguarda espiritual, deve lançar-se a uma dinâmica ativa, buscando em cada momento e em cada situação o serviço mais eficiente e querido por Deus.
Trabalhar onde há mais necessidade, onde se espera maiores frutos, onde as pessoas possam estender a outros o bem realizado… é participar da atividade dinâmica do Deus trabalhador.
Por isso, a espiritualidade inaciana é uma espiritualidade de mudança, que se adapta às circunstâncias e às exigências de cada momento; é uma espiritualidade do risco, da pessoa de fronteira, de linha de frente.
Tal existencialismo dinâmico só é possível através da disponibilidade, abertura, docilidade ao Espírito…
Faz-se necessário “deixar-se levar” pelo Espírito, que é fonte perene de novidade e criatividade, princípio vital que nos guia segundo a nova existência em Cristo.
A inacianidade é uma experiência do Espírito, que cria no mais íntimo da pessoa uma exigência de novidade, numa atitude de buscar sempre a situação nova, própria de cada momento.
Mas o inaciano não é tanto a pessoa da novidade, quanto da exigência da novidade; injeta um espírito de novidade mesmo no velho; não se contenta com o novo encontrado… Isto impede a pessoa de cair no serviço rotineiro, de percorrer um caminho fixo ou de aferrar-se a práticas determinadas.
Sua norma não é realizar o serviço mais seguro, o menos perigoso, o tradicional, nem tampouco o mais novo ou o menos novo, senão o que Deus em cada momento vai lhe revelando.
Textos bíblicos: Mt 20,24-28; Lc 4,38-39; Jo 12,20-26; Lc 22,24-27; Rom 12,3-12.
Na oração: Poder gastar sua vida no serviço divino de Deus nosso Senhor é, para S. Inácio, não só a maior das graças, como também uma graça da qual é preciso ser digno.
Trata-se de um serviço todo ele perpassado de gratuidade e que só pode ser desempenhado na mais absoluta gratuidade.
“Servir a Deus por puro amor”: este é o grande fruto dos Exercícios.