11 – Igreja: comunidade de servidores
Jesus, com seu modo de viver, nos coloca diante da tentação que nos ameaça: o gosto do poder, da comodidade, de pompas, de querer ser como os “chefes das nações”, de ter privilégios, de ser servido… Sua proposta de vida é de uma sabedoria e de uma humanidade finíssima; seu horizonte é o serviço.
Jesus não quer “chefes” sentado à sua direita e à sua esquerda, mas servidores como Ele, que dão sua vida pelos outros. Sua Igreja não se constrói a partir da imposição dos de cima; nela não cabe hierarquia alguma de honra e dominação, mas hierarquia de serviço.
No grupo dos seus seguidores, aquele que quer sobressair e ser mais que os outros, deve se deslocar para o último lugar; assim, a partir da perspectiva dos últimos, poderá ter melhor visão daquilo que eles mais necessitam e poderá ser servidor de todos.
A verdadeira grandeza consiste em servir com amor; o serviço é a manifestação prática do amor. E o amor busca sempre o último lugar, precisamente porque esse é o lugar mais universal; é o lugar que mais nos humaniza, o que mais humaniza a vida, a convivência, a sociedade.
A nova atitude dos discípulos aparece, assim, como um prolongamento do gesto de Jesus que, sendo “Filho do Homem”, dá a vida pelos outros. Não veio para receber a majestade, a honra e o reino sobre os demais, senão que veio para dar sua vida pelos outros. Assim, seus discípulos não devem buscar poder, prestígio e fama, senão serem capazes de servir aos outros.
Por isso, frente à manipulação messiânica dos filhos de Zebedeu, representantes de uma humanidade ansiosa de domínio religioso, Jesus estabeleceu aqui as bases de uma fraternidade onde não existe poder, senão servidor, exercido pelo “diakonos” (servidor libre).
A partir deste pano de fundo, os evangelhos aparecem como um manual de uma Igreja de servidores, onde a vida adquire seu mais profundo sentido, onde surgem relações novas, fundadas na gratuidade, na compaixão, na acolhida…
Para o “lider servidor” na Igreja, a liderança não significa cargo, privilégio, títulos ou dinheiro, mas é exercitar uma responsabilidade no serviço. Ele não se pergunta: “quê quero”, mas “em quê posso ajudar?”, ou “o quê deve ser feito?”.
Assim, os líderes servidores são doadores e não receptores. Nunca se apegam a uma posição ou cargo. Escutam e aprendem daqueles aos quais lideram. São disponíveis, vão de um lugar para outro, falando e ouvindo as pessoas de todos os níveis da instituição.
E assim, servir e ajudar, em lugar de mandar e controlar, são as palavras de ordem dos novos líderes.
Portanto, liderar com autoridade implica espírito de confiança, tratar o outro com bondade, ouvir atentamente, ter verdadeiro respeito para com os talentos do outro, ter real interesse por ajudar o outro para que tenha êxito, manter acesa a chama do sonho para que cada um possa tirar o melhor de si mesmo a favor da comunidade, sintonizar com os princípios profundos e valores permanentes da vida, expressar consideração, elogio e reconhecimento pela atuação do outro, afastar todo preconceito…
A identificação com o “divino serviço” atua, em cada cristão, como força rompedora daquilo que é tradicional, o conhecido, o “status quo”… levando-o a “inventar” respostas criativas e originais aos velhos desafios de seu tempo. Ele desenvolve uma liderança clara, realista, centrada, universal, comprometida com a vida; um líder que ama o que faz, pois é consciente de sua missão, descoberta em sua amorosa e infatigável busca da Vontade de Deus.
Ele sabe desenvolver uma liderança inserida nas realidades deste mundo, mas sempre com o olhar fixo em discernir para buscar, encontrar, sentir e fazer o que é “melhor” no serviço divino.
Inspirados no modo de proceder de Jesus, podemos traçar o perfil do servidor cristão,
. Pessoas abertas à ação de Deus com um projeto de vida comum, orientado por uma Espiritualidade e coerentes com seu testemunho de vida.
. Pessoas sensíveis e conscientes frente à realidade social, comprometidas em um testemunho de vida a serviço dos outros e com os outros, para transformar e construir uma sociedade na paz e na convivência.
. Pessoas compassivas: possuidoras de uma qualidade humana fundada no amor, na compaixão, na ternura e no serviço.
. Pessoas comprometidas: que acompanham o processo de crescimento do outro de maneira tolerante, justa, próxima e exigente.
. Pessoas com identidade corporativa institucional, capazes de trabalhar em equipe.
Textos bíblicos: Mc 10,35-45; Col 3,12-17