18 – O som do divino silêncio
“Sile, vel dic silentio megliora”
(Silencia, ou diga coisas melhores do que o silêncio)
Inscrição que se encontra na gruta de S. Cosimato, perto de Subiaco (Itália), berço da família beneditina. Ninguém sabe a data da inscrição, nem o seu autor. Mas a sua sabedoria é eterna; a sua atualidade é patente.
O maior mal do nosso século é o ruído, a incapacidade do ser humano de silenciar.
Os grandes heróis da Igreja tinham predileção pelo deserto, pelas cavernas: S. Bento, S. Francisco de Assis, S. Inácio de Loyola… Não pelas cavernas em si, mas pelo silêncio, pelo recolhimento, pela paz e interiorização que propiciavam.
Aqueles homens e mulheres conheciam o segredo e o valor do silêncio; sabiam que os grandes feitos se forjam no silêncio; sabiam que o nosso Deus não é o Deus do ruído, mas do silêncio.
Portanto, o “homem novo”, como Jesus que ao alvorecer subia, solitário, aos cumes dos montes, aspira ter para si um espaço livre de qualquer barulho alienante, onde seja possível dispor o ouvido a captar alguma coisa da eterna festa e da voz de Deus.
Schopenhauer tem razão quando afirma que o “ruído paralisa o cérebro e impede o pensamento”.
Alguém acrescentou: “O silêncio regula os nossos pensamentos e impulsos. Sem ele, perdemos uma dimensão do ser humano”.
A pessoa que exclui dos seus pensamentos o Deus vivo que preenche cada espaço, esta não pode suportar o silêncio. Para ela, habituada a viver à margem do nada, o silêncio é o sinal aterrorizante do vazio. Cada ruído, por mais tormentoso e obsessivo, é para ela mais agradável; cada palavra, até a mais estéril, livra-a do pesadelo.
No meio do alarido, o “homem novo” que há em nós deve lutar para assegurar, no seu íntimo aquele silêncio verdadeiro, repleto da presença retumbante da Palavra, silêncio atento à escuta, aberto à comunhão.
O silêncio capacita-nos a comunicar com os outros, a compreendê-los.
Quem vê no outro apenas a soma dos seus ruídos, das suas gesticulações, jamais encontrará o outro como pessoa. Daí a estima dos santos, dos contemplativos, pelo silêncio.
Daí a sua fraternidade, mesmo e sobretudo em meio ao despojamento e à pobreza extrema.
Daí a sua paz, a sua união profunda com Deus.
“No mundo da pressa, a oração exige tempo e calma. No mundo do ruído, a oração exige silêncio. No mundo da distração, a oração exige capacidade de recolhimento” (G. Lazzati)
Texto bíblico: Tg 3,1-12.
Na oração:
– Buscar favorecer aquelas condições que o colocam em estado de autenticidade, na procura da voz do Espírito que reza dentro de você, a fim de lhe dar espaço, a fim de lhe dar voz.
– Sem esta atitude não existe oração cristã: é o Espírito que reza no nosso íntimo.
– Suscitar sentimentos de louvor, de admiração, de reconhecimento, de súplica, inserindo esta realidade no ritmo do Espírito que reza em nós.
– O verdadeiro orante é aquele que, quando o seu ser está desolado, conserva o coração generoso e o espírito capaz de agradecer.
– Há um treinamento para a oração: quanto mais a gente se aplica a ele, mais depressa transpomos a periferia para chegar ao essencial e ao núcleo (“experiência”).
“Senhor, que minha vida seja simples e reta como uma flauta silvestre,
para que a enchas de Música”
(Tagore).