9 – “E ocorreu um desconcertante silêncio…”
“A Palavra calou meu falar”
(Clemente Rebora)
Se, no princípio existia a Palavra, e na Palavra de Deus começou a constituir-se a nossa redenção, é claro que, de nossa parte, deve existir o silêncio: o silêncio que escuta, que acolhe, que se deixa vivificar.
Certamente, à Palavra que se manifesta deverão corresponder as nossas palavras de gratidão, de súplica. Mas, antes, existe o silêncio.
A oração consiste em pôr-se em presença de Deus com as mãos e o coração abertos; permanecer aí o tempo suficiente para que o Senhor venha.
A oração não é propriamente uma busca. A busca supõe uma certa impaciência, uma atividade (fazer algo).
A oração, entretanto, é uma espera.
A espera põe o acento no Outro, naquele que vem. De nossa parte só podemos aguardá-lo.
Esperar é expressar nossa impotência, nossa insuficiência e esta é nossa atitude diante de Deus.
“Esperar é reconhecer-se incompleto” (Guimarães Rosa).
Não podemos forçar Deus para que venha.
O máximo que podemos fazer é esperar e estar presente. Nesse sentido, o silêncio significa plenitude de Presença.
“Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, fez-se no céu um silêncio de meia hora…” (Apoc 8,1).
Esta imagem do silêncio é anúncio e espera de uma mensagem extraordinária.
O silêncio diante do Criador e Senhor é expectativa de uma coisa grandiosa. Quem não sabe calar e esperar com paciência, jamais poderá experimentar o sabor da mensagem grandiosa da Palavra.
O silêncio é exercício que acompanha a consciência de estar sob a Palavra. Por detrás do nosso “palavreado crônico” está o desejo de orar.
Muitas palavras são ditas porque ainda não encontramos a única palavra que importa.
Orar significa deixar as “pressas”. Deus é quem controla. Virá quando achar oportuno.
Orar é ter coragem para escutar e renunciar a nossa autodeterminação.
Expressamos muito quando simplesmente esperamos.
Pelo fato de esperar Deus estamos admitindo a importância que Ele tem em nossa vida.
Seja o senhor o meu guru
Um dia, um sábio viu passar pelos campos um cortejo nupcial, com grande aparato e acompanhamento de tambores e trombetas.
Nas proximidades, observou um caçador tão preocupado em encontrar a pista de uma lebre, que nem ouviu o barulho da música, nem percebeu o cortejo.
O sábio cumprimentou o caçador e disse-lhe:
– Venerável, seja o senhor o meu guru. Que os meus pensamentos, ao meditar, se dirijam para o objeto da meditação como os seus para a lebre! (Ramakrishna)
Texto bíblico: Jer l,4-19.
Na oração: Em cada encontro que temos com Deus, por mais que nos “apressemos”, é Ele que chega primeiro.
Procuramos a Deus; e no entanto, é Ele quem, por primeiro, nos procura. Não chegamos a procurá-lo, senão porque Ele quer deixar-se achar.
Não podemos encontrá-lo a não ser que o procuremos como Ele quer deixar-se procurar.
A iniciativa é de Deus. Nossas orações são perpétuos começos. É totalmente impossível pretender acabar uma oração. Acaba-se de conhecer a Deus.
Rezar é fazer a experiência de que Deus nos escapa sempre mais, mas nós lhe escapamos cada vez menos. Há em nós um apetite do Absoluto e a consciência agora de nossa finitude.
Na oração, aceitar a proposta de Jesus a Nicodemos: nascer de novo. Mergulhar em si mesmo, abrir espaço à presença do Inefável.
“Para mim, a oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio da alegria”. (S. Teresinha)