Advento: “sim” ousado à vida
“Maria respira ao ritmo do Espírito”
“O anjo espera a tua resposta, Maria!
Todos nós estamos aguardando, Senhora, o teu dom, que é dom de Deus. Nas tuas mãos está o preço do nosso resgate. Responde logo, Virgem! Pronuncia, Senhora, a palavra que a terra, o reino dos mortos e até o céu aguardam! Abre, Virgem Santa, o teu coração à fé, os teus lábios à palavra, o teu seio ao Criador! Eis que Aquele que é o esperado de todas as gentes está fora e bate à tua porta… Levanta-te, corre, abre. Levanta-te com a tua fé, corre com teu amor, abre com tua adesão”
(S. Bernardo).
Nem sempre temos consciência da força e do dinamismo que a expressão “sim” carrega; uma expressão que move o mundo; expressão oblativa que nos faz ex-cêntricos (o centro é o outro).
Dizer “sim” é ampliar o próprio interior para que Deus possa encontrar mais espaço livre e poder atuar.
Dizer “sim” é deixar “Deus ser Deus”.
Ao mesmo tempo, a atitude que se expressa no “sim” é a que mais nos humaniza, pois alarga e desata todas as possibilidades humanas que carregamos dentro de nós. O “sim” pede o envolvimento da pessoa inteira, desde o mais profundo das entranhas até a mobilização do corpo, da mente, da vontade, da afetividade…
Encanta-nos quando alguém pronuncia “Sim!”; fascina-nos ouvi-lo dizer “Sim!”.
É música em seus lábios, é explosão de vida, é afirmação generosa e alegre de tudo o que a pessoa é.
É sílaba afiada, é nota aguda, é proclamação decisiva, é uma expressão que tem peso.
É um ato de fé. Quando alguém diz “Sim!” está afirmando sua vida, está confiando em Deus, está invocando a Providência para se tornar realidade seu desejo.
O “sim” valente e ousado revela a identidade de quem o pronunciou, expressa a originalidade espontânea com que vive e deseja que outros também vivam.
Quando diz “sim” com toda energia e vibração, está fazendo com que todo aquele que o ouve creia na vida, encante-se com o mundo, abra-se à eternidade.
Cada “sim” radical dito por alguém é um sermão, um testemunho, um empurrão de graça para aqueles que ouvem. Ressoa em seus ouvidos esse “sim” de seus lábios, tão claro, tão forte, tão seu. É como se ele dissesse: “ajude-me a escutá-lo!”
Toda a vida é um lento aprender a dizer “sim!”.
Custa-nos, pois trata-se de um “sim” sério, profundo e comprometido, mais vital e decisivo que há de soar na vida para que ela tenha sentido, direção, valor e finalidade. Se o “sim” que define nossa vida sai de dentro de nossas entranhas e soa em plenitude, despertará outros “sins” que nos saudarão porque sentem que seu “sim” é derivado de nosso “sim”. Todo “sim” repercute nos outros e desencadeia outros “sins”.
Então nossa palavra terá peso e força e nossa vida terá fundamento. Sem esse “sim” radical de entrega e compromisso, a vida ficará vazia de conteúdo e desprovida de forças. Falta-nos afirmação.
O “sim” alegra o coração. Não há palavra mais aberta, mais confiante, mais entregue. É abrir os horizontes e respirar fundo. Diante de um novo plano, de uma proposta, de uma janela aberta, de um caminho pressentido, a primeira reação é lançar-se, avançar e explorar.
De imediato nos desafia a averiguar o que há pela frente. O “sim” move, nos faz peregrinos.
Vivemos em permanente movimento e transformação. Sem movimento não há opções nem criatividade.
A decisão audaciosa e inovadora poderá germinar outro mundo. Mundo onde a originalidade de cada ser humano seja respeitada. Se nunca nos movemos, nunca nos plenificamos.
Há especialistas em encontrar obstáculos, fabricar pretextos, encontrar desculpas, obter adiamentos…
Sempre dizem “não” a tudo que é novo. O “não” é fácil, cômodo e seguro e mata a aventura.
Aprender a dizer “sim” é aprender a viver.
No processo de salvação da humanidade tudo começou com um “sim”.
O “sim” de Maria em sua casa de Nazaré. Não houve programa maior nem empreendimento mais atrevido que o proposto em breves palavras pelo anjo à Virgem.
Primeiro uma pergunta necessária e um esclarecimento rápido. E depois o “sim”.
Nada de condições, nada de garantias, nada de averiguações. Venha o que vier. Abertura total e entrega definitiva. Será dor e será alegria, será morte e será ressurreição, será esperar e será acolher.
Tudo virá a seu tempo e à sua maneira, porque a porta está aberta, o coração está entregue e os céus esperam. Esse é a resposta que Deus aprecia, e a disposição que espera para lançar seus planos.
A Deus não agradam condições, dúvidas, demoras, regateios…
Espera um “sim” claro, definitivo e permanente. Então Ele entra em ação com toda a força de sua Graça, o poder de sua glória e os planos de sua eternidade. E consuma-se a Redenção.
Aquele que é a Vida e por quem foram feitas todas as coisas pede o consentimento da virgem de Nazaré para assumir a vida humana no seu seio virginal. Para que sejam cumpridas, para que o Salvador entre na nossa história, só falta o Sim de Maria. Deus nunca força nossa liberdade. Nem mesmo nos momentos em que está em jogo o futuro da humanidade.
O Deus que nos criou sem pedir o nosso consentimento, nunca nos impõe missão alguma sem o nosso consentimento.Ele suscita nossos desejos, atrai, convida, mas respeita sempre nossa liberdade. Nossas decisões serão tanto mais livres e fecundas, quanto mais unidos estivermos com Deus, quanto mais confiarmos na sua graça; mas elas têm de ser tomadas por nós.
À palavra-ação de Deus corresponde a palavra-ação de Maria. O anjo permanece na presença de Maria até que ela diz a última palavra. Seu consentimento encerra o diálogo. O anjo retira-se em silêncio. É a hora da ação silenciosa de Deus.
Maria encerra o diálogo autodenominando-se “a serva do Senhor”; ela é consciente de que foi chamada por Deus para um serviço, que lhe foi confiada uma missão, e que é ela quem a tem de realizar para a salvação do mundo. E põe-se inteiramente ao serviço dessa vocação-missão.
Todo “sim” é atrevido, arriscado e aventureiro. É um “sim” claro e sonoro ao chamado que se sentiu com força, se discerniu com prudência e se aceitou com entusiasmo.
Um “sim” amplo à vida que consagra a entrega e predispõe ao maior serviço. Tudo o que é grande na vida humana, tudo o que é nobre, duradouro e valioso é um “sim” aberto e confiante ao que há de vir.
O “sim” emancipa o ser humano; o “sim” realiza o ser humano; o “sim” personaliza.
“Faça-se em mim segundo a tua palavra”: Estas palavras de Maria são a mais alta expressão da atitude do ser humano diante de Deus. Elas expressam, ao mesmo tempo, uma disponibilidade receptiva e uma prontidão ativa.
Maria é receptividade total, entrega incondicional, disponibilidade sem reservas ao desígnio salvífico de Deus, ao que Deus realizou e realiza nela.
A forma passiva “faça-se em mim” expressa a soberania total de Deus sobre ela. A resposta de Maria é o modelo perfeito da atitude de fé diante de Deus e da entrega total a Ele. Não se pertence a si mesma, não tem preferências próprias, idéias próprias, projetos próprios, à margem dos planos de Deus.
A virgem de Nazaré não é, porém, um instrumento inerte nas mãos de Deus.
Sua resposta, embora dinamizada pela graça, é uma resposta livre na fé. O fiat de Maria é o começo da Nova Aliança de Deus com a humanidade. No “Sim” de Maria está incluído antecipadamente todo o seu destino futuro. E o seu destino está indissoluvelmente unido ao do seu Filho.
Há opções fundamentais, atos de liberdade tão radicais, que marcam os rumos de toda a vida posterior.
Daí a grandeza, a beleza e a responsabilidade das decisões da liberdade humana.
Textos bíblicos: Mt 1,1-23; Lc 1,26-38; 2Cor 1,12-23
Na oração: fazer memória dos “sins” que transformaram minha vida.