3 – A revolução verde de Deus
“Disse Deus: ‘verdeje a terra’” (Gen 1,11)
“Cinzentas são todas as teorias, verde é a árvore da vida” (Goethe)
Uma Bíblia “verde” nos desafia a procurar as palavras de Deus referentes ao nosso enfraquecido planeta e a criar uma tradição vital para melhor celebrar e comemorar a vida.
Não é um mero acaso que a cor associada com o movimento ecológico seja o verde. A clorofila vital verde, que transforma os raios do sol em energia química utilizável, é a base de toda a vida na terra; ela representa a reação criativa da terra à constante oferta de energia de sustentação da vida pelo sol.
Quando observamos campos outrora verdejantes e agora destruídos ou entulhados de lixo, uma sensação de violação, de tragédia, quase de sacrilégio, se manifesta no nosso interior.
Sentimos isto porque existe uma crescente sensação de que todos os lugares pelos quais caminhamos no nosso lar planetário verde são “territórios sagrados”. Estamos aprendendo que o solo do nosso lar terrestre é “verde” e também que este solo é sagrado, um solo comum que serve de local de enraizamento para todos os elementos da vida. Segundo a Bíblia a Terra é um jardim onde Deus tem prazer em caminhar.
“Esta é nossa esperança: que as crianças nascidas hoje possam continuar tendo, dentro de vinte anos, um pouco de grama verde debaixo de seus pés descalços, um pouco de ar puro para respirar, um pouco de água azul para velejar e uma baleia no horizonte para incentivar seus sonhos” (Jacques Cousteau).
Este tempo de oração nos convida a considerar a força intensa da beleza vital presente em todas as coisas, animadas e inanimadas, e a desenvolver a consciência de nossa participação nesta beleza em constante evolução.
A beleza é um dos quatro preceitos transcendentais do qual todas as coisas participam.
Os outros preceitos são a unidade, a verdade e a bondade.
Esta beleza nunca se esgota senão que se transforma e se intensifica constantemente: a aurora boreal, o crescimento de uma criança, o desenvolvimento de uma planta ou de um animal, o entardecer…
“Um ser belo é uma alegria perpétua” (Keats).
Quando, a partir do nosso coração, ficamos atentos à natureza que nos circunda e nos colocamos à escuta contemplativa da realidade, percebemos “palavra” no silêncio das coisas. O mundo da natureza muda se faz eloquente, nos mostra a “pegada” do Criador, é um espelho que vai nos introduzindo no mistério.
Sua beleza nos cativa e sua magnitude nos assombra; sua imensidade nos excita… nos desafia.
O universo é sinfônico, não afônico. É pluralidade de mensagem: todas as coisas falam de si a seu modo.
Estamos mergulhados num mundo constituído de uma multiplicidade de notas, sons, sinais e mensagens diversas. O conjunto da vida é uma “melodia”.
Como numa grande vitrine, a natureza nos fascina e nos faz sonhar acordados; converte-se num chamado permanente ao assombro e à admiração, à relativização de nosso estreito mundo de nossas solidões e conflitos. Todas as nossas energias contemplativas, significativas e transformadoras se sentem afetadas pelo mundo fascinante da natureza.
A criação nos chama a ser consciência, voz e sentido de si mesma. Ela precisa de nós para articular seu clamor e sua impaciente espera de libertação.
“Herdarás o solo sagrado e a fertilidade será transmitida de geração em geração.
Protegerás teus campos contra a erosão e tuas florestas contra a destruição e impedirás que tuas fontes sequem e que teus campos sejam devastados pelo fogo, para que teus descendentes tenham abundância para sempre.
Se falhares, ou alguém depois de ti, na eterna vigilância de tuas terras, teus campos abundantes transformar-se-ão em solo estéril e pedregoso ou em grotões áridos, teus descendentes serão cada vez menos numerosos, viverão miseravelmente e serão eliminados da face da terra.” (autor desconhecido).
Textos bíblicos: Eclo 43,9-20; Joel 2,21-27; Lev 25,1-7
Na oração: Mobilizar meus sentidos para ver, ouvir, tocar, sentir e saborear a beleza de nossa terra. Considero minha conexão com esta beleza e como ela me faz perceber o amor da Trindade ao cosmos em constante evolução.
Considero o novo sentimento de maravilha que cresce em meu coração e como dá novo sentido à minha missão de colaborador no grande jardim do Criador.