2 – Ecologia interior – I
Por um minuto, esquece a poluição do ar e do mar, a química que contamina a terra e envenena os alimentos e medicamentos:
– como anda o teu equilíbrio ecobiológico?
– Tens dialogado com teus órgãos interiores?
– Acariciado o teu coração? Respeitas a delicadeza de teu estômago?
– Acompanhas mentalmente teu fluxo sanguíneo?
– Teus pensamentos são poluídos? As palavras, ácidas?
– Os gestos agressivos? Quantos esgotos fétidos correm em tua alma?
– Quantos entulhos – mágoas, ira, inveja – se amontoam em teu espírito?
Examina a tua mente. Está despoluída de ambições desmedidas, preguiça intelectual e intenções inconfessáveis? Teus passos sujam os caminhos de lama, deixando um rastro de tristeza e desalento?
Teu humor intoxica-se de raiva e arrogância? Onde estão as flores do teu bem-querer, os pássaros pousados em teu olhar, as águas cristalinas de tuas palavras?
Por que teu temperamento ferve com frequência e expele tanta fuligem pelas chaminés de tua intolerância?
Não desperdiça a vida queimando a tua língua com as nódoas de teus comentários infundados sobre a vida alheia. Preserva o teu ambiente, investe em tua qualidade de vida, purifica o espaço em que transitas.
Limpa os teus olhos das ilusões de poder, fama e riqueza, antes que fiques cego e tenhas os passos desviados para a estrada dessinalizada dos rumos da ética.
Ela é cheia de buracos, e podes enterrar o teu caminho num deles.
Tu és, como eu, um ser frágil, ainda que julgues fortes os semelhantes que merecem a tua reverência.
Somos todos feitos de barro e sopro. Finos copos de cristal que se quebram ao menor atrito: uma palavra descuidada, um gesto que machuca, uma desconfiança que perdura.
Graças ao Espírito que molda e anima o teu ser, o copo partido se reconstitui, inteiro, se fores capaz de amar. Primeiro, a ti mesmo, impedindo que a tua subjetividade se afogue nas marés negativas.
Depois, a teus semelhantes, exercendo a tolerância e o perdão, sem jamais sacrificar o respeito e a justiça.
Livra a tua vida de tantos lixos acumulados. Atira pela janela as caixas que guardam mágoas e tantas fichas de tua contabilidade com os supostos débitos de outrem. Vive o teu dia como se fossa a data de teu renascer para o melhor de ti mesmo – e os outros te receberão como dom de amor.
Pratica a difícil arte do silêncio. Desliga-te das preocupações inúteis, das recordações amargas, das inquietações que transcendem o teu poder. Recolhe-te no mais íntimo de ti mesmo, mergulha em teu oceano de mistério e descobre, lá no fundo, o Ser Vivo que funda a tua identidade.
Guarda este ensinamento: “por vezes é preciso fechar os olhos para ver melhor”.
Acolhe a tua vida como ela é: uma dádiva involuntária.
Não pediste para nascer e, agora, não desejas morrer. Faze dessa gratuidade uma aventura amorosa.
Não sofras por dar valor ao que não merece importância. Trata a todos como igual, ainda que estejam revestidos ilusoriamente de nobreza ou se mostrem realmente como seres carcomidos pela miséria.
Faze da justiça o teu modo de ser e jamais te envergonhes de tua pobreza, de tua falta de conhecimentos ou de poder. Ninguém é mais culto do que o outro.
O que existem são culturas distintas e socialmente complementares.
O que seria do erudito sem a arte culinária da cozinheira analfabeta?
Tua riqueza e teu poder residem em tua moral e dignidade, que não tem preço e te trazem apreço.
Porém, arma-te de indignação e esperança.
Luta para que todos os caminhos sejam aplainados, até que a espécie humana se descubra como uma só família, na qual todos, malgrado as diferenças, tenham iguais direitos e oportunidades.
E estejas convicto de que convergimos todos para aquele que, supremo atrator, impregnou-nos dessa energia que nos permite conhecer a abissal distância que há entre a opressão e a libertação.
Faze de cada segundo de teu existir uma oração. E terás força para expulsar os vendilhões do templo, operar milagres e disseminar a ternura como plenitude de todos os direitos humanos.
Ainda que estejas cercado de adversidades, se preservares a tua ecobiologia interior, serás feliz, porque trarás em teu coração tesouros indevassáveis.