10 – Em cada semente, uma faísca de eternidade
Na parábola (Mt 13,3-9), a cena é iniciada pelo semeador: ele sai e, com um gesto, que une misteriosamente o céu e a terra, espalha, por toda parte e com abundância, uma semente de extraordinária potencialidade criativa. O Céu fecunda o grande ventre da Criação, o ventre da “terra”, e tudo canta e grita.
É o grito de júbilo da vida e do amor, que é causa de realização e sentido pleno da criação.
O verbo “sair”, com o qual se inicia a narração (“… eis que o semeador saiu…”) é colocado numa evidente posição de destaque e evoca o tema do “êxodo”, de modo a dizer que, no início da narração, podemos perceber uma alusão ao mistério do “êxodo” de Deus, que “sai” do mundo divino e leva consigo uma carga de vida, que produz a maravilha da criação e da história com uma vitalidade inesgotável. Nada do que foi espalhado cai no vazio ou é desperdiçado: tudo, até o menor fragmento, jamais volta a Ele sem produzir vida, beleza e força criativa.
O gesto de semear é alegre, generoso, transbordante e irrefreável, precisamente porque é gratuito: é um semear por semear; é um semear criativo, isto é, comunica em abundância, em toda parte e a todos, a força da vida.
Aquele semeador não se preocupa, portanto, se a semente cai também onde não pode frutificar normalmente, porque a semente que cai ao longo do caminho se torna alimento e alegria para “os pássaros do céu que não semeiam, nem ceifam, não ajuntam em celeiros” (Mt 6,26); aquela que cai em lugares pedregosos se torna, mesmo com seu germinar efêmero, motivo de alegria, numa situação aparentemente incapaz de vida; aquela que cai entre os arbustos acende a esperança, mesmo onde predomina a hostilidade. No final, sobretudo – e não só no “terreno bom” – desce e pousa a luz dourada da bênção, da alegria e da esperança.
Este “estranho” semeador deixa a sua semente cair por toda parte; para ele nada é inútil ou esquecido.
Em cada canto da Criação desce a bênção da fecundidade. Ele semeia tudo, esgotando seus imensos celeiros, sabendo que a flor da vida enriquece a criação e a história humana. E, sob o olhar contemplativo do narrador tudo se torna maravilha e beleza incomparáveis.
O terreno, onde a semente cai, se torna o jardim no qual floresce o dom inesgotável da vida.
Mas, para ser verdadeiramente o que é, cada terreno deve tornar-se acolhida. Se o céu exprime o dom, a terra representa a acolhida. Se Deus é Aquele que doa, a criatura é a que acolhe, com jubilosa gratidão e se deixa fecundar e plasmar pelo dom, para tornar-se revelação do doador e canto de louvor. Se o semear exige o “êxodo” de Deus, também a acolhida exige, da parte da criação, um “êxodo” de si mesma.
A imagem do “caminho”, como realidade que permanece estranha e impermeável ao poder criador da semente, sugere a ideia de que a verdadeira acolhida exige necessariamente a superação do instinto e natural fechamento em si mesmos, isto é, a superação do medo da “mudança”, ligada, inevitavelmente, ao contato e ao encontro com o “outro”.
A imagem do “terreno pedregoso” sugere a necessidade de se superar toda superficialidade, toda falsa aparência, para realizar uma autêntica acolhida na verdade, na profundidade e na perseverança.
Enfim, a imagem dos “arbustos”, que ocupam o terreno, lembra que a acolhida não é certa, mas exige a totalidade, a preparação e a disponibilidade, que liberta da multiplicidade dispersiva, dos medos, das hostilidades e das improvisações, que não produzem nada de duradouro.
Na semente acha-se presente uma grande força de crescimento. A força da vida, contida na semente, envelhecerá e se extinguirá se não houver quem confie nela, e arrisque sua terra, seu tempo e seu trabalho.
Quando a semente é enterrada na terra, ela já conhece o seu caminho; escondida ali, debaixo da terra, envolvida pelo absoluto silêncio, a semente germina e vai crescendo.
Mesmo à margem de todo e qualquer esforço que possa ser feito pelo agricultor, “a terra por si mesma produz fruto”, ultrapassando etapas precisas e bem definidas, que de modo algum podem ser modificadas, apressadas e suprimidas. O importante é dar frutos no seu devido tempo.
“As sementes armazenam possibilidades misteriosas e surpreendentes aos nossos olhos. Cada semente é uma fonte, um desfecho, uma pausa da eternidade. Ser semente é possuir todas as idades, todos os percursos, todas as histórias. É preciso prezar a coragem das sementes. Apodrecer para inaugurar o fruto. Cada semente, como poesia, é um bilhete para viagens” (Campos Queiroz)
Na oração: – Você se parece com uma semente guardada no depósito, marcada pelo medo?
– Você se parece com uma terra ácida e estéril que não permite que nada germine?