“A vocação não se procura, escuta-se…”
Retiro:
. experiência de escuta da vida, a partir de Deus, para perceber as vozes do coração e da história e que vão desembocar numa decisão (escolha de um estado de vida, de uma missão…);
. experiência de leitura orante da vida (discernimento) para captar os sinais (impulsos, atrações) que vão indicar a Vontade de Deus sobre a pessoa;
. sinais exteriores (mundo, Igreja, clamor dos pobres…); interiores (movimentos do coração);
. o retiro privilegia uma escuta interior (mergulho no eu profundo); uma decisão que não tem raízes no coração não tem consistência; antes de qualquer opção mais radical é necessário criar um “tempo especial” para sentir o que se passa “dentro” (para onde se inclina o coração? quem o move, o atrai…?)
. o retiro, através da oração e do discernimento, quer ser uma experiência pessoal, original, única…
Ele não oferece uma receita pronta; quer ser instrumento para ajudar no discernimento.
Requer condições internas para a escuta (silêncio, ânimo e generosidade…)
Se a “vocação” é, antes de tudo, chamado de Deus, a primeira atitude só pode ser descrita como escuta.
Aquele que procura reconhecer sua vocação, só pode dizer, como Samuel: “Fala, Senhor, que teu servo escuta” (1Sam 3,10).
Um discernimento em clima de escuta da Palavra de Deus, de comunicação de vida profunda, de oração intensa e constante, de diálogo sincero com Deus, é o clima para a resposta.
Deus não faz ruído; é preciso um coração atento, em silêncio, para ouvi-Lo.
Urge “fazer deserto”, fazer deserto no coração: imprescindível para se optar, para se decidir.
Fazer deserto é entrar no coração, ficar aí e escutar.
Porque o coração não nos engana, uma vez que o próprio Deus está agindo no fundo de nosso ser.
E no coração se exige silêncio, disponibilidade, contemplação…
Este é o caminho sério para se descobrir o plano de Deus para a vida de cada um.
“Sim, levá-lo-ei ao deserto e falar-lhe-ei ao coração” (Os 2,16)
A vocação brota de dentro; é com o coração, e não com ideias, que se chega a dar uma resposta a Deus; com o coração entendido como interioridade, centro da pessoa, eu profundo…
Um coração barulhento, uma mente confusa, uma afetividade ferida, um corpo agitado pelo cansaço e pelo stress, não são “espaço” para responder a qualquer projeto maravilhoso de vida que se lhe apresenta. Não está capacitado para responder.
O próprio ser humano cria em seu coração “espaço para ser”; cria espaço para acolher o Outro e com Ele entrar em comunhão.
O silêncio e a escuta interior dispõem a pessoa para a resposta. Mais ainda: essa atitude harmoniosa já é resposta, porque a “pessoa integrada” faz Deus presente em seu coração.
– Como é possível escutar o chamado, querer dar resposta quando o barulho interior, feito de apego às coisas, às pessoas, às ideias e a si mesmo, o invade?
Tudo isso deve desaparecer para criar um clima para o Senhor chegar.
Só em clima de oração tem início, brota, cresce, amadurece e chega à plenitude uma vocação.
É a oração que possibilita a escuta dos “movimentos interiores”: atração, resistência, apelo, alegria, medo, repulsa, paz interna… O ser humano é impelido interiormente por movimentos muito profundos, que se relacionam com o seu caminho vocacional.
Antes de iniciar a experiência do retiro, é bom tomar consciência do próprio estado interior.
Algumas perguntas que o ajudam a reconhecer o próprio terreno:
– O que busco? isto é: nestes dias, o que eu gostaria de obter, que frutos quereria colher?
– O que desejo? neste momento, o que é mais importante para mim?
– O que temo? isto é, o que poderia me perturbar e desviar? Há algo que pesa em minha vida?