19 – Resiliência: “o mais que há em ti…”
Descobrimos na entranha da natureza humana a força do “magis”, a exigência de infinito e de transcendência que todo ser humano carrega no seu eu mais profundo, impedindo-o de instalar-se na mediocridade de sua vida. O ser humano desafia a si mesmo; é potencial grandioso, “condenado a superar-se”.
Movido pela força do “magis” ele é capaz de extrair audácia de seu medo, criatividade de sua acomodação, clamor de seu silêncio, riqueza de seus fracassos, vida de sua agonia…
Todo ser humano vive, nas raízes do seu coração, uma tensão para o “mais”, que sacode o adormecimento ou a satisfação descompromissada, na qual poderia sentir a tentação de instalar-se.
Itinerante por vocação, o ser humano pulsa, está em ritmo de busca, é torrente de decisões… Ele é essencialmente mutável. É “metánoia”, termo grego que significa “mudança” no pensar, no sentir, no agir, no conviver…; é iniciativa criadora para gerar outra história, outra maneira de viver, outra esperança.
Marcado pela força do “magis” o ser humano é vida, êxtase, paixão, efervescência criadora, impulso vital…; ele é chamado a re-inventar-se, a aventurar-se por mares desconhecidos buscando a “nova terra”.
“Mais”: significa o dinamismo mesmo da vida. O ser humano é habitado por um processo de crescimento em todas as dimensões de seu ser (corpo, mente, afetividade, coração…). É assim que a vida, em lugar de estancar-se em si mesma no mecanismo de repetição, se converte em história, atravessada por uma busca e uma vontade de construção contínua de si mesma.
Para aquele que deixa manifestar no coração de sua vida a inquietude que o habita, o “mais” vem remover e questionar a satisfação demasiado tranquila e fácil.
O “mais” nunca se identifica com a mediocridade; ele sempre pede ir mais longe, mesmo que seja a preço de muita luta e esforço.
Em 1º lugar, luta para sacudir o torpor e a preguiça. Porque não há vida aberta verdadeiramente ao “mais” que não seja levada pela coragem de empreender, de realizar, de resistir…
“Querer e buscar mais” significa não contentar-se com um compromisso reduzido, com um fechar-se num mundo pequeno, no qual o dinamismo do desejo aberto ao infinito se afoga.
Esta aspiração do “mais” é um convite a não se deter no caminho e nem se instalar naquilo que foi encontrado, mas aprofundar e buscar sempre aquilo que, para além da rotina e da superficialidade, é mais urgente, mais necessário, mais evangélico.
A expansão de horizontes e de sonhos deve ser buscada no mais íntimo do coração, mediante o descentramento de si mesmo, como impulso para os “grandes espaços”.
Quem se deixa queimar pela exigência do “mais” não se instala no “meio-termo”.
Nada mais contrário ao “mais” que a vida instalada e de alguma maneira acomodada, que consistiria na pura repetição mecânica dos mesmos gestos e das mesmas ações.
Também se opõe ao dinamismo do “mais” uma existência estabilizada de uma vez para sempre, tendo pontos de referência fixos, definitivos, tranquilizadores… Numa vida assim faltaria por completo o princípio da novidade, da criatividade, a capacidade de questionar-se e de uma orientação nova, a audácia de arriscar, de fazer caminhos ainda não percorridos ou abertos à aventura e às surpresas.
É isso justamente que acontece no processo dos Exercícios: o que nos humaniza é o desbloqueio da força do “mais” e do compromisso por uma causa última pela qual viver. Certamente, para sermos humanos, é necessário sacudir de nós toda forma de apatia e de fraqueza, e rechaçar toda tendência à acomodação e toda tentação de apegar-se a medidas muito reduzidas, ao tédio e ao costume.
Nascemos para o “mais”: mais que aquilo que já realizamos, mais que aquilo que já possuímos.
Só somos criados sendo criadores quando deixamos que a vida desperte nossas infinitas possibilidades de criar o novo, passando por nossa imaginação e nossas mãos. Ao inventar o novo vamos nos fazendo incessantemente novos. Para “ser”, é preciso “estar sendo”, ou seja, estreando cada dia a novidade da vida que nos é presenteada; é o desejo de ir ao máximo das possibilidades que sugere nosso coração.
Textos bíblicos: Ef 4,1-16; Rom 12,3-13.
Na oração: Senhor, destemido, eu saiba enfrentar a vida e avaliar problemas e tempestades como oportunidades de crescimento. Que eu seja conservado em ritmo de busca; que tua Graça libere em mim a exigência do “mais” que me habita.