11 – O ser humano
como um ser-de-cuidado e de com-paixão
A base última da existência humana é seu ser-no-mundo-com-os-outros.
Uma determinação básica do ser-no-mundo-com-os-outros é o cuidado.
Somos seres de cuidado e esta realidade inerente ao ser humano não é apenas um atributo ou uma virtude, mas um “estilo de vida”, um modo de proceder que se manifesta como “compaixão”.
Pelo cuidado o ser humano se religa ao mundo afetivamente, assumindo responsabilidade por ele. Os seres da natureza não são vistos como concorrentes na luta pela vida, mas sim como parceiros, com os quais é preciso compartilhar o espaço vital.
A pessoa que tem cuidado sempre sente-se afetada e afetivamente ligada ao outro.
“Em sua essência, ser-no-mundo é cuidado. Do ponto de vista existencial, o cuidado é encontrado ‘a priori’, antes de toda atitude e situação do ser humano, o que significa dizer que ele se acha em toda atitude e em toda situação de fato” (Heideger)
Mesmo realidades tão fundamentais como o querer e o desejar se encontram enraizadas no cuidado.
O cuidado significa a constituição existencial mais original do ser humano e está presente em tudo quanto ele faz. É o cuidado que fornece o solo sobre o qual se move toda ação do ser humano.
O cuidado forma a substância do ser humano. Ele deve ser definido como um “ser-de-cuidado”.
O cuidado oferece a base mais segura para entender a compaixão em seu sentido fundamental. Ela aparece como uma das concretizações e irradiações do cuidado.
De fato, a com-paixão não é um sentimento menor de “piedade” para com os que sofrem.
A com-paixão não é passiva, mas sim altamente ativa.
Com-paixão é a capacidade de com-partilhar a própria paixão com a paixão do outro. Trata-se de sair de si mesmo e de seu próprio círculo e entrar no universo do outro enquanto outro, para sofrer com ele, para cuidar dele, para alegrar-se com ele e caminhar junto a ele, e para construir uma vida em comunhão e solidariedade.
Em 1º lugar, esse modo-de-ser acarreta comoção frente ao outro, vontade de cuidar dele, de devotar-lhe dedicação, a fim de lhe aliviar o sofrimento. Com-paixão é preocupação com a vida do outro. Implica uma relação de total renúncia ao poder sobre ele.
Significa, portanto, con-sentir mais do que entender, é mostrar a capacidade de identificação e de com-paixão com o outro.
A arte do cuidado confere a cada um a capacidade de exercer a paternidade-maternidade espiritual; cuidar é sentir o outro, é verdadeiramente escutar, é ir além das palavras, é ter um olhar desarmado, eliminando todo preconceito.
Em 2º lugar, a com-paixão busca construir comunhão a partir dos que mais sofrem, ou dos que são penalizados pela vida. O que sofre possui uma autoridade indiscutível, porque ele fala ao profundo de cada ser humano, toca aquelas instâncias em que a essência humana vigora como cuidado e compaixão essencial.
Cuidar é dar atenção com ternura, isto é, descentrar-se de si mesmo e sair em direção ao outro, participando da sua existência.; é esvaziamento de si mesmo para deixar o mistério da miséria do outro, que também traz em si, encontrar abrigo no coração.
Quem já foi tocado por um olhar de uma pessoa pobre ou sofredora e deixou que este olhar penetrasse no fundo do seu coração sabe que não sai “ileso” desta experiência; algo mudou dentro de si. É uma experiência que o modifica profundamente, tanto que muitos interpretam esta experiência como uma “experiência de Deus”, uma experiência de ter conhecido no rosto do pobre o rosto de Cristo.
Textos bíblicos: Mc 8,1-9; Lc 7,11-17.
Na oração: “Deus em sua grandeza, abrange o universo inteiro e, como o ar, envolve todos os seres recriando-os a cada instante. Ele se faz oferta, dádiva imensa, realidade oceânica que banha as praias da nossa vida. Ele é o nosso tudo, porém no amor”. (Frei Cláudio)