7 – Jesus, um ser-de-cuidado
Jesus de Nazaré foi aquele que mais encarnou o “modo-de-ser-cuidado”.
Revelou à humanidade o “Deus-Cuidado”, experimentando Deus como Pai e Mãe divinos que cuida de cada cabelo de nossa cabeça, da comida dos pássaros, do sol e da chuva para todos (Mt 5,45; Lc 21,18).
Jesus mostrou cuidado especial com os pobres, os famintos, os discriminados e os doentes.
Enchia-se de compaixão e curava a muitos.
Fez da misericórdia a chave de sua ética.
As parábolas do bom samaritano, que mostra a compaixão pelo caído na estrada (Lc 10,30-37) e a do filho pródigo acolhido e perdoado pelo pai (Lc 15,11-32), são expressões exemplares de cuidado e de plena humanidade.
Jesus foi um “ser-de-cuidado”. O evangelista Marcos diz com extrema finura: “Ele fez bem todas as coisas; fez surdos ouvir e mudos falar” (Mc 7,37).
Em várias passagens do Evangelho, Jesus manifesta uma peculiar sensibilidade e cuidado pelas pessoas e pela natureza. Ele não é um teórico da ecologia, no sentido moderno, mas tem atenção e zelo pela vida, seja da natureza, seja do ser humano. Jesus é um bió-filo (amigo da vida).
Como judeu piedoso que era, Jesus conhece as páginas do Gênesis, e sente a Criação não como fato concluído, mas como obra em movimento, em direção à plenitude.
Falando do Deus Criador, Ele diz: “Meu Pai trabalha sempre e eu também trabalho” (Jo 5,17).
Para Jesus, a cada dia o Pai chama as criaturas pelo nome e as convoca à vida: as águas fluem, os animais procriam, os astros retomam seu curso e o ser humano acorda para o louvor de Deus e o cumprimento de suas tarefas. Pela ação providente e cuidadosa do Pai, a Criação inteira se refaz de crepúsculo em crepúsculo e de aurora em aurora.
Jesus herdou esta percepção dinâmica da natureza. De tal modo que, para Ele, a natureza se torna “diáfana”, transparente: a beleza da Criação faz ver a arte do Criador.
Ele reclama da insensibilidade dos fariseus e saduceus, incapazes de decifrar os “sinais dos tempos”. Pois aquele que treina os olhos na observação do vento, das nuvens e da cor do céu, deveria ser hábil em perceber os sinais de Deus na história humana (Mt 16,1-3)
Vendo além dos desertos, Jesus se encanta com as flores e os pássaros e faz destas singelas criaturas uma parábola da providência divina (Lc 12,24.27-28).
Certa manhã, indignado, ele seca uma figueira estéril (Mt 21,18-22). Mas noutra ocasião, misericordioso, diz que é importante saber cultivar: dar atenção, cuidar, cavar ao redor, colocar adubo e esperar o tempo dos frutos (Lc 13,6-9).
Pássaro e lírios, figos e figueiras! Jesus usa o simbolismo do jardim em sua pedagogia, como retrato excelente da Terra, destinada a ser um lugar de convivência, saúde e sustento.
É no cenário do jardim que Jesus multiplica o pão dos pobres “sentados sobre a relva verde” (Mc 6,39). O mesmo, verificamos na parábola do semeador (Mt 13,4-9) e em várias ocasiões de oração e ensinamento, quando o Mestre inicia seus discípulos na intimidade dos jardins (Jo 18,1-2).
No jardim Ele planta seu corpo ferido pela Paixão, para brotar vivo como novo Adão.
E, uma vez ressuscitado, apresenta-se a Maria Madalena na figura do jardineiro e cultivador (Jo 20,15).
Com isto concorda o relato da Criação: tudo o que Deus fez terminou num jardim.
O Criador, depois de plantado o jardim, parou o seu trabalho. Entregou-se ao puro prazer de contemplar a obra de suas mãos. “E viu que era muito bom…” (Gen 1,31).
Deus prefere os jardins. E passeava por entre as árvores, à hora da brisa da tarde (Gen 3,8).
O jardim é a face graciosa que Deus oferece aos homens. No jardim, Deus realiza o seu sonho. Por isso, nós e o universo só seremos felizes quando todos formos um jardim.
Na oração:
– há dentro de cada um de nós, um jardim secreto, fechado, que precisa ser aberto;
– essa é a peregrinação interior: visitar o jardim secreto, cenário silencioso, onde a beleza se esconde; é nele que moram as emoções, a criatividade, a bondade, os sonhos…