Contemplação para alcançar amor
Maria Fátima Maldaner, SND
Senhor, eis que estou aqui prostrada ante a infinita gratuidade com que cumulas de dons e benefícios a humanidade, obra de tuas mãos.
Tão imenso, profundo é o Mistério do teu Amor pródigo, que invoco toda a milícia celeste como testemunha da grandiosidade, da benevolência com que abres mãos e coração para derramar bênçãos sobre todos os teus filhos.
Aqui estou, Senhor. Antes de enumerar tuas obras, peço-te a graça de um coração reconhecido diante de tuas imensas dádivas, para que este mesmo coração entoe hinos e cânticos de ação de graças e os meus passos se enveredem na proposta de em “tudo amar e servir”.
Coloco-me agora, ante a tua obra da Criação. Creio, és o Deus-Criador!
Vejo o firmamento a perder-se num horizonte sem começo, sem fim; o sol, esplendoroso em luz e calor; admiro a lua, a noiva da noite, que determina os dias de festa; a noite é noite para os seres repousarem; o dia, claro, deslumbrante predispõe o homem para a faina diária; numa alternância admirável se revezam as estações, proporcionando o clima apropriado para a gestação da vida.
Creio, és o Deus-Criador! Encanto-me ante a imensidão do universo: astros, planetas, mares, terras, montanhas e vales, cochilas e planícies, rios, fontes, riachos! Entregaste este universo para mim, entregaste-o para nós. Por tudo isso: Glória a ti, Senhor!
Meus olhos, meus sentidos todos estão admirados e meu ser repleto de gratidão pela fauna e flora à disposição do homem: mamíferos, aves, répteis, peixes, protozoários da mais variada espécies, tamanhos, cores; plantas, flores, árvores de incalculáveis espécies, variedades e coloridos. Senhor, te entregaste por mim, te entregaste por nós nos teus dons! Louvado sejas, meu Senhor!
Eis o universo criado, enorme útero materno, berço e espaço de acolhida para os filhos que a habitariam; espaços amplos, inatravessáveis pela criatura humana. Maior, porém, que todo o espaço visível e imaginável é teu amor partilhado tão prodigamente conosco. Glória a ti, Senhor!
Majestosa grandiosidade!
Tudo aí está por acaso? Capricho da evolução? Também nela tu estás! Dobro os joelhos e te invoco como o Todo-Poderoso e creio em ti, Deus-Criador!
E, se isto tudo não bastasse, eis que na plenitude dos tempos o teu VERBO vem habitar, vem tomar posse do que era seu, vem redimir o que fôra contaminado. Ei-lo entre nós! Na carne humana, matéria da matéria, dos elementos animados e inanimados, do ar, da água, dos minérios vem sendo formado no seio de Maria-Mãe, o Verbo Eterno. Façanha admirável! A matéria é tocada pelo divino e se torna sagrada, cristificada. Assim iniciou a redenção. Glória a ti, Senhor!
Todavia não pára aí: a redenção vai acontecendo na pobreza do Menino de Belém, no escondimento e despretensão dos 30 anos de Nazaré, na compaixão para com seu povo da Palestina, na fraternidade sonhada, pregada e testemunhada, enfim, na concretização do projeto do Pai – corpo doado, sangue derramado – mistério pascal consumado!
E o que fôra criado, redimido, salvo é mantido no dinamismo da vida que nasce, cresce, se desenvolve, traz fecundidade, renova, cria e recria vida, movimento.
Sim, Tu, Pai trabalhas sempre por mim!
Sim, Tu, Pai trabalhas sempre por nós!
Participas e nos fazes participar do amoroso intercâmbio do Amor-Criador, redentor e santificador. No Ressuscitado, Cristo-Senhor, que caminha com seu povo na força do Espírito, somos partícipes do poder que impulsiona para a plenificação, para a recapitulação e cristificação de tudo e de todos os homens. “…(Ele) é o herdeiro de tudo, por ele criou os mundos. este Filho é o resplendor de sua glória e a expressão de seu ser e sustenta o universo pelo poder de sua palavra (Hbr 1,2-3).
Fazes participar a inteligência do homem no prolongamento do teu SER através dos progressos na técnica, na informática, na eletrônica, na conquista dos espaços siderais; estás presente e nos fazes participar do BELO, reflexo de tua eterna beleza, expressa na arte plástica, cênica, nas majestosas esculturas, nas sinfonias e orquestras dos requintados anfiteatros e das majestosas catedrais góticas, na harmonia do coro dos monges conduzindo ao interior mais interior do se humano
Sim, dos altos céus tu olhas e observas e te inclinas para olhar todos os homens. Contemplas a todos do lugar onde resides os que habitam sobre a terra … e por todos os seus atos te interessas (cf Sl 32,13-15). Senhor, agraciada por dons tão excelsos, abro coração e mente para distribuir, para me “des-graçar” na multiplicação farta e generosa destas mesmas dádivas aos teus filhos e meus irmãos; que jamais haja egoísta posse, mas pés apressados, ouvidos à escuta, boca a anunciar, olhos a acolher, coração a amar e disposição para “em tudo servir”. Que o mundo inteiro seja enfim “en-graçado” da benignidade e bondade de Deus, nosso Salvador, para com todos os homens (cf Tt 3,4)”.
Na memória deste rosário de graças, meu coração se encontra “abrasado”; sentindo a pequenez e incapacidade de retribuição, meu ser se oferece a ti e se coloca ao teu inteiro dispor, cantando:
Recebei, Senhor que é vosso,
Aceitai que eu vos dou..
Quanto valho e quanto posso,
Quanto tenho e quanto sou!
Liberdade, cetro d’ouro
Inteligência o meu sol.
Memória, vivo tesouro
Vontade d’alma o escol.
Gotas são do oceano imenso,
Dessa infinda perfeição.
Deu- m’as vosso amor sorrindo,
Torno-as minha gratidão.
Um só bem rico me faça
O maior dom que vós dais:
Vosso amor e vossa graça
E meu Deus, não peço mais.
Meu Senhor e meu Deus, depois de ter repassado, neste momento de minha oração, a história de teu AMOR por mim, por nós, peço a graça de continuar a ver este teu mundo com um OLHAR diferente; dá-me, Senhor, o OLHAR DA FÉ, que não mais faz distinção entre profano e sagrado. Tudo vem de ti, tudo para ti volta. Sim, TUDO. Que eu seja contemplativo na ação. Assim seja!