14 – Retorno à Galileia: terra do serviço cristificado
Galiléia foi a primeira decisão importante que Jesus tomou no início de sua vida pública.
O Evangelho de Marcos diz que “depois que João Batista foi preso, Jesus veio para a Galiléia proclamando o Evangelho de Deus” (Mc 1,14). Uma decisão que foi essencial em sua vida, porque Jesus permaneceu na Galiléia até pouco antes de morrer.
Jesus viu claramente que o melhor lugar em que Ele podia e devia comunicar sua mensagem era precisamente a Galiléia. Assim sendo, é evidente que o lugar de onde fala condiciona o que essa pessoa diz. Não é a mesma coisa falar de uma cátedra universitária importante que da janela de uma casa perdida em um povoado perdido qualquer.
O fato é que Jesus, para realizar sua missão docente, não se dirigiu à capital, Jerusalém, nem à importante província da Judéia. Logo após sua decisão, Jesus foi viver e desenvolver sua atividade, pregar sua mensagem numa região distante, habitada por humildes camponeses e pescadores pobres, pessoas que, naquele tempo, eram consideradas uma população sem influência, que não vivia na abundancia e que, ainda por cima, eram consideradas ignorantes, impuras, de má reputação, de quem se devia manter distância.
Se efetivamente Jesus queria “evangelizar”, ou seja, comunicar uma “boa notícia” à sociedade de seu tempo, não buscou conquistar para si os notáveis e as classes influentes da sociedade de seu tempo, nem procurou os postos de privilégios, nem o favor dos mais influentes, e nem, muito menos, os que detinham o poder e o dinheiro.
Mais ainda, quando Jesus tomou a decisão de ir pregar na Galiléia, o que na realidade fez foi dirigir-se a um país governado por um tirano sem escrúpulos (Herodes) e que não estava disposto a admitir “denúncias proféticas” de ninguém. Mas nada disso o desviou de seu projeto de ir em busca dos pobres, nem o fez tomar precauções para falar com “discrição” em semelhante situação.
Por isso, Galiléia é o lugar da luta e compromisso pela vida, o lugar dos excluídos e desprezados, o lugar dos discípulos, o lugar no qual Jesus realizou os gestos libertadores.
Todos sabemos que as “mudanças profundas e duradouras” na sociedade não vem de cima, mas de baixo, a partir da solidariedade e da identificação de vida com os últimos deste mundo. Há uma esperança alentadora, que vem das periferias e das margens, que se empenham por imprimir um movimento novo à história; nele está a semente na qual Jesus viu o germe de uma vida diferente, nova e mais promissora.
E Jesus foi o ponto de partida de uma profunda mudança na história da humanidade.
Foi na Galiléia Jesus venceu os poderes que atentavam contra a vida; ali é onde venceu a morte; por isso, após a Ressurreição, Ele irá diante dos discípulos, contagiando-os com seu Espírito.
A Galiléia revela uma mensagem: a utopia de Jesus é possível.
“Voltar à Galiléia” é retomar a vida do Jesus histórico, retornar ao marco evangélico de Nazaré, Caná, Cafarnaum, Naim, o lago de Genesaré…, onde Jesus de Nazaré, ungido pelo Espírito passou fazendo o bem e curando todos os oprimidos pelo maligno (At 10,38).
Jesus percorreu vilas e cidades despertando a vida e fazendo renascer a esperança. “Voltar à Galiléia” é regressar aonde tudo começou (At 10,37), prosseguir o estilo de Jesus de Nazaré, continuar sua missão.
“Galiléia” é também o lugar do chamado ao seu seguimento.
“Voltar à Galiléia” é fazer-se próximo junto aos pobres como lugar privilegiado, animado pelo Espírito, pelo mesmo Espírito que desceu sobre Jesus no batismo e o ungiu como Messias, o Espírito que o levou ao deserto, que o guiou durante toda sua vida, que o enviou a Evangelizar os pobres, que lhe deu fortaleza na paixão, que o ressuscitou dentre os mortos.
É o mesmo Espírito que move toda a vida cristã e que foi o ator principal da experiência dos Exercícios.
Mt 28,16-20: Jesus inicia sua atividade na Galiléia (Mt 4,12-17). É para lá que seus discípulos se dirigem.
A eles Jesus confere a missão de continuar aquilo que ele tinha feito: continuar a percorrer as vilas e cidades levando a vida, a esperança… Mas não só na Galiléia e sim, em todo o mundo.
É o lugar do testemunho e da ação da comunidade cristã.
“Os onze discípulos caminharam para a Galiléia…” Aparentemente tudo estava normal, uma cena familiar na Galiléia. No entanto, falta um. Os apóstolos são um corpo ferido, não são mais os mesmos de antes. Algo ficou comprometido entre eles e em relação a Jesus. Mas O Ressuscitado os reconstrói, confiando a eles o prolongamento de Sua própria missão.
Na oração: Rezar a própria Galiléia, lugar de missão.