6 – Reino: a paixão pelo serviço
De acordo com os Evangelhos, seguir Jesus Cristo é aderir a Ele incondicionalmente, é “entrar” no seu caminho, recriá-lo a cada momento e percorrê-lo até o fim. Seguir é deixar-se com-figurar, isto é, movimento pelo qual a pessoa vai sendo modelada à imagem de Cristo.
Jesus Cristo nos salva, nos dá a sua Vida, e, sempre respeitando nossa condição de homens e mulheres livres, nos convida a participar de sua obra: a realização do Reino de Deus neste mundo marcado pela dor, violência, exclusão, pobreza…
Ele nos convida a trabalhar com Ele e como Ele, a viver como Ele, a ter os critérios e os valores d’Ele.
Jesus convoca pessoas que tem espírito de audácia, de energia, de criatividade, de luta, de participação, porque Deus não nos deu espírito de timidez, de covardia, de fuga…
Cada um de nós experimenta como os fatos, acontecimentos, pessoas, vivências… nos estimulam, nos provocam, nos incitam; numa palavra, nos “chamam”, pedem de nós uma decisão, uma opção. “Ver Cristo Nosso Senhor, Rei eterno, com o mundo inteiro diante d’Ele, que chama todos e cada um em par-ticular” (EE.95). Neste empreendimento, cada um deve descobrir a sua maneira de melhor corresponder; neste chamamento feito a todos, cada um deve escutar a parte que lhe cabe.
Conhecer este chamado a uma missão especial que Deus dirige a cada um, deve ser a grande preocupação de toda pessoa, sobretudo naqueles momentos mais decisivos.
Trata-se de um chamado que “afeta” todo o seu ser, com toda sua bagagem de inteligência, afetividade, qualidades e defeitos, influências e inclinações; com todas as possibilidades que a vida lhe oferece neste momento em que vive, diante das necessidades do mundo, da Igreja, da sua comunidade…
Os homens e as mulheres de todos os tempos e lugares trazem, como que enraizados nas fendas mais profundas de sua alma, sonhos de rara beleza. São desejos de convivialidade, de superação da dor e da solidão, sonhos de fraternidade e harmonia… Era certamente nessa direção que Jesus apontava, ao falar do Reino de Deus como o mundo das esperanças e possibilidades.
A pessoa que se deixa forjar pelo convite do Reino sente que as grandes façanhas propostas pelo Companheiro Jesus, seduzem por si mesmas. O exercício do Reino mobiliza e expande a pessoa na direção dos outros; ela é convocada a “encarregar-se dos outros”, encarregar-se das obras que solucionem os problemas das “maiorias excluídas”. Isso é o que significa paixão pelo Reino.
A experiência do Seguimento nos sugere algo que é de uma importância decisiva. Ou seja, na experiência autêntica de encontro com Cristo, encontramos o impulso mais forte, mais decisivo, mais libertador para responder, sem meio-termo, ao chamado dos excluídos.
Ante o clamor que vem da “margem”, como não sentir compaixão e solidariedade para com os “perdedores” da história? A necessidade de olhar o excluído e de sentir sua exclusão como uma interpelação e um chamado, não é para nós moda nem sectarismo, mas o núcleo mesmo de nossa experiência espiritual tal como aparece nos Evangelhos.
Somos chamados a viver a solidariedade como um estilo de vida, fundado no modo de viver de Jesus.
A solidariedade significa encontrar-se com “o mundo do sofrimento, da injustiça, da fome… e não ficar indiferente”. A solidariedade que nasce da compaixão leva a reconhecer no outro uma dignidade e uma capacidade criativa de superar sua situação. Isso pede de todos nós uma atitude de abertura ao outro, o que implica colocar-nos em seu lugar, deixar-nos questionar e desinstalar por ele… Importa, pois, re-descobrir com urgência a solidariedade como valor ético e como hábito permanente de vida.
A paixão pelo Reino mobiliza a pessoa a levar adiante a missão, a ir aos lugares do mundo onde há mais necessidade e ali realizar um serviço duradouro, de maior proveito e fruto. O seguidor de Jesus se apaixo-na por levar adiante o Reino, e por isso se dedica a servir, não só porque isso é evangélico, senão porque toca o coração da história, realizando ali atividades que a transformem por dentro.
Serviço, portanto, que modifique o modo como está constituído o mundo, para que aconteça o Reino.
Textos bíblicos: Mt 5,13-16; Mt 10,1-16; Mc 3,7-19; Lc 4,16-30
Na oração: diante de Deus responda: como você vive hoje sua missão na família, no trabalho, no seu ambiente, na sua comunidade? Que sentido você quer dar à sua própria vida?… em quê gastar suas forças, capacidades?