16 – Contemplativo na ação
“É por uma graça privilegiada que o P. Inácio concebeu esse estilo de oração.
De outra parte, ele sentia e contemplava a presença de Deus em todas as coisas.
Contemplativo na ação, ele compreendia a dimensão espiritual de todas as suas ações
e de todos os seus encontros. O que lhe fazia dizer:
“é necessário encontrar Deus em todas as coisas”
(P. Nadal).
A partir da experiência do Cardoner, quando contemplou que tudo vem de Deus e tudo retorna a Ele, S. Inácio descobre outro tipo de oração que vem responder às exigências e às dificuldades das pessoas mergulhadas na ação apostólica.
A originalidade de sua experiência está em contemplar Deus na ação, a viver a união com Deus na ação, a união com Deus em todas as coisas. Contemplar a ação de Deus é cooperar com Ele.
S. Inácio sente-se chamado ao encontro com Deus na obra de Deus.
O importante para ele é a união com Deus; não se trata de uma simples possibilidade, mas de uma exigência fundamental, ou seja, ser “ser instrumento único com Deus”, “familiaridade com Deus” (Const. 671; 813).
Tudo deve estar em função desta união com Deus; tanto a oração como a ação devem conduzir a uma interioridade com Deus cada vez mais profunda e intensa.
Por isso, S. Inácio propõe uma modalidade de oração acomodada ao ritmo de uma pessoa de ação, que responda às exigências da ação e à mobilidade apostólica.
Trata-se de uma oração contínua que vai ao ritmo do dia e da ação; o que importa aqui não é o “orar” a todo momento, mas de fazer em todas as coisas a Vontade de Deus, seja na oração ou na ação.
A oração contínua é a que se faz “tendo sempre Deus diante dos olhos”.
Esta expressão, continuamente repetida nas Constituições (547; 466; 622; 650), não significa uma contemplação imaginativa ou uma visão extraordinária, mas uma atitude interior, isto é, desejo de servir a Deus, de procurar sua maior glória e o bem mais universal; é a atitude permanente daquele que tende a fazer sempre a Vontade de Deus em todas as coisas. Com isso, a ação torna-se uma verdadeira oração, que une a vontade da pessoa à Vontade de Deus e a faz saborear os frutos desta união. Quando a pessoa se doa inteiramente a Deus e ordena toda a sua vida a seu serviço, em tudo pode encontrar a Deus.
Contemplação na ação: não são dois momentos distintos – o contemplar e o atuar – mas um único: contemplar atuando; pois é a mesma graça divina que alimenta nossa oração e comanda nossa ação.
“Longe de arruinar a oração, a ação deve suscitar uma oração nova, própria às condições mesmas nas quais ela se desenvolve, que faz ‘encontrar Deus em todas as coisas” (M. Giuliani).
A ação passa a ser um meio privilegiado de união com Deus, porque é o meio pelo qual se dá a resposta do homem ao apelo de Deus. A oração, por sua vez, deve guiar e inspirar a ação; ao mesmo tempo, a oração encontra seu sentido e sua realização na ação, porque é ação de Deus.
O inaciano é um “contemplativo na ação” porque é uma pessoa que encontra Deus através e na ação. Por isso sua espiritualidade é uma espiritualidade de ação nesse duplo sentido:
– que toda oração deve traduzir-se em serviço apostólico;
– que a ação e o serviço apostólico são oração em si mesmos.
“Se dirigimos todas as coisas a Deus, tudo será oração” (Carta de S. Inácio a S. Francisco de Borja).
Esta convicção de S. Inácio enraíza-se certamente em sua teologia da Criação, cujo Princípio e Fundamento e a Contemplação para alcançar amor nos revelam os traços essenciais: as criaturas como lugar da “presença ativa” de Deus e mesmo como “sinal” de seu rosto.
Textos bíblicos: Jo 4,31-38; Jo 6,34-40; Jo 9,1-6.
Na oração: A contemplação inaciana termina na “união com Deus na ação”.
A contemplação inaciana desemboca na prática; ela não é neutra, mas comprometedora.
Quem faz a experiência da contemplação na oração deverá ser um “contemplativo na ação”:
– olhar as pessoas… e nelas descobrir a Pessoa do Senhor;
– escutar o que elas dizem… perceber e discernir qual é a Voz do Senhor e o que Ele tem a me dizer;
– observar o que fazem… participar, fazer-me presente, colaborando e construindo a história dos homens com os valores do Evangelho.