14 – Santidade: presença alegre da consolação
“O santo é capaz de viver com alegria e sentido de humor.
Sem perder o realismo, ilumina os outros com um espírito positivo
e rico de esperança. Ser cristão é ‘alegria no Espírito Santo’” (Rom. 14,17)
(Papa Francisco – GE. n. 122)
À Luz da Páscoa, alegria e santidade, não se dissociam; ao contrário, implicam-se mutuamente.
A alegria é um sentimento central da santidade cristã. Nisto consiste a verdadeira alegria: sentir que um grande mistério, o mistério do amor de Deus, nos visita e plenifica nossa existência pessoal e comunitária.
Alegria que brota do interior e é um dom do Espírito. “O fruto do Espírito é: amor, alegria” (Gal 5,22). Este dom nos faz filhos de Deus, capazes de viver e saborear sua santidade e bondade.
Não é correto que os cristãos associem com tanta frequência a fé à dor, à renúncia, à mortificação, mas à alegria, à vida em plenitude.
Nossa alegria é Cristo ressuscitado. Ele é a causa de nossa alegria. Ele nos comunica vida em plenitude.
A vida cristã, por vocação e missão, deve ser alegre. Toda ela é profecia de alegria e esperança. A participação afetiva na alegria de Cristo é a forma de expressar o desejo da íntima comunhão no amor que reforça o seguimento. “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Com Jesus Cristo sempre nasce e renasce a alegria” (Papa Francisco).
A alegria na vida cristã aninha-se e cresce na vivência do mistério pascal. A ressurreição de Jesus causou uma imensa alegria na comunidade dos discípulos. A alegria é contagiosa e tem uma dimensão social e comunitária. Nós não estamos alegres porque Jesus está vivo, mas porque nos fez partícipes de sua ressurreição, de sua nova vida. Assim nossa alegria é a alegria de Jesus.
A alegria do Cristo Ressuscitado é a plena realização do projeto de Deus, o cumprimento de sua missão, o reencontro de Deus com a humanidade, a restauração de todas as coisas, o resgate da humanidade infiel.
A alegria, própria do amor, já não busca seu próprio interesse, mas somente o serviço e a glória do Ressuscitado. O Pai, em seu amor, pronunciou a palavra definitiva de fidelidade que consola e enche de esperança. Tal alegria desinteressada e serena, que é a experiência da santidade, equivale ao puro regozijo do amor mais desinteressado pelo bem alheio, que dá acesso à graça da salvação.
Os Evangelhos revelam que Jesus vivia sereno, feliz, alegre. As bem-aventuranças são o fiel reflexo de sua vida. Seu íntimo trato com o Pai, sua paixão pelo Reino, suas relações pessoais, suas amizades, seu modo de enfrentar a “hora”, sua aceitação da vontade do Pai, sua paixão e morte são vividas em paz.
Diante dos prodígios, milagres que vai fazendo em sua vida pública, Jesus exulta de alegria no Espírito Santo. Ele nos revela que Deus é alegria em si mesmo e para nós, e que a salvação definitiva é “entrar na alegria do seu Senhor” (Mt 25,21).
“Olhar o ofício de consolar que Cristo nosso Senhor exerce” (EE. 224). S. Inácio utiliza esta expressão quando apresenta, na 4ª Semana dos Exercícios, a contemplação das aparições do Ressuscitado.
Consolar é o que define a ação do Ressuscitado transformando a situação dos seus discípulos: a tristeza se converte numa alegria contagiosa, o medo em valentia e audácia, a negação de Cristo em profissão de fé e martírio… Não se trata de um ato pontual senão de um “ofício” que definirá para sempre a atividade de seu Espírito no mundo.
Nas cenas evangélicas das aparições, o efeito da presença do Ressuscitado sobre os discípulos termina sempre em reconhecimento, chamado e envio, em restauração de uma vocação e missão.
Jesus ressuscitado exerce sobre eles um específico “ofício de consolar”, cujo efeito é iluminar o caminho pelo qual, em seu nome e com Ele, hão de percorrer. O “ofício de consolar” é a marca do Ressuscitado, é força re-criadora e reconstrutora de vidas despedaçadas. Jesus ressuscita e se encontra com cada um dos seus amigos e amigas, ativando neles o sentido da vida, reconstruindo os laços comunitários rompidos, e sobretudo, oferecendo solo firme a quem estava sem chão, sem direção… A consolação é mais uma expressão do Ressuscitado que reconstrói e ressuscita vidas marcadas pela dor e pelo fracasso.
Ser testemunhas e profetas da alegria constitui a essência da santidade cristã.
E “para viver a alegria, exercitar-se na alegria”. Este deveria ser o slogan do seguidor de Jesus. Temos que nos converter à alegria de Deus que é autêntica paixão pelo ser humano.
Temos de contagiar a alegria do Evangelho. É preciso remover obstáculos que impedem a alegria; é preciso remover a pedra de nossos sepulcros e viver como ressuscitados.
O profeta da alegria, longe de fugir dos conflitos da vida, os enfrenta e os integra com sentido. Não tem fronteiras, não exclui gênero, classe social, cor, língua, religião, não descarta o aparentemente inútil. Por isso, nossa vida e nossa palavra querem ser anúncio e compromisso de concórdia e comunhão nos conflitos, unindo pontos, integrando diferenças, curando feridas. Teremos que reforçar o testemunho de comunhão na diversidade para mostrar que é possível superar o medo às diferenças. Nossa vida alegre desmonta a hipocrisia, as ambições, a intolerância, o preconceito…
O vocábulo “alegria” está carregado de emoções, sentimentos e aspirações alcançadas. Vincula-se ao estado de plenitude humana, à criatividade, ao entusiasmo, ao prazer, ao contentamento, à satisfação, ao regozijo, à felicidade. “Bem-aventurados os que sabem rir de si mesmos: nunca cessarão de se divertir”.
A alegria está conectada com o humor, o riso, a espontaneidade… Também pode-se ver uma alegria ocasional e outra constitutiva da identidade de uma pessoa; daí a importância de distinguir “estar alegre” de “ser alegre”. A alegria, então, não é só um estado de ânimo, mas um estado da pessoa. Por isso, a alegria não é algo que acontece na pessoa: é a pessoa mesma acontecendo. A alegria é gerúndia: é a pessoa alegrando-se.
A alegria é incondicional. Não depende diretamente dos esforços pessoais. A alegria é um dom.
A alegria está ligada à gratuidade; a alegria não é voluntária; não é objeto de decisão, como tampouco de decreto. A alegria exige um clima favorável: um estado de espírito semelhante a um estado de graça. A alegria sempre indica que a vida está se expandindo, que ganhou terreno, que conseguiu ir além de si mesma.
Quem vive a santidade na alegria se sente sereno, livre, pensa positivamente, está próximo dos pobres, acolhe as adversidades, integra suas contradições, ama sem pôr condições, louva, canta e bendiz sem cessar…
De fato, a alegria experimentada não nos põe na retaguarda nem nos acomoda; pelo contrário, nos pede que sejamos mais radicais nos questionamentos e nos compromissos. Está em jogo a glória de Deus e a dignidade de seus filhos.
O profeta da alegria anuncia sempre mensagem de salvação, exercita a compaixão, suscita a esperança, se envolve enquanto promove a paz, a justiça, a solidariedade, a fraternidade. Sua alegria entra no fluxo da alegria do Ressuscitado.
Textos bíblicos: Jo 20,19-28; Fil 4,4-14
Na oração: Sentir em si mesmo a alegria de Cristo; alegria que é dom do Espírito do Ressuscitado. Em Cristo, as alegrias humanas são divinizadas. Considerar na oração os diversos motivos que o enchem de alegria.
“A maior prova da existência de Deus é a alegria dos pobres. Eles não têm outro motivo para se alegrar a não ser em Deus”. (D. Luciano Mendes de Almeida).
– Considerar na oração os diversos motivos que nos enchem de alegria.