30 – Silêncio: Morada interior
“atravessada” pelo sopro criativo do Espírito
“Desde o momento em que sufoco a silenciosa voz interior, eu deixo de ser útil”
(Gandhi)
O silêncio nos fascina e nos dá medo ao mesmo tempo, nos atrai e nos espanta porque nos coloca diante do mistério, do inédito, da realidade que não conhecemos e que nos ultrapassa.
No fundo, o ser humano tem tanto medo do silêncio quanto necessita dele.
O silêncio substancioso é o que nos permite regressar à casa, voltar à origem. Identifica-se com a conversão profunda, com a transformação da mente e a permanente novidade do coração.
O silêncio interior é um silêncio de qualidade que aparece como um espaço não-manipulado, onde tudo volta a ser puro. Um espaço no qual aparece o risco mais belo e terrível: sentir-se diante do desconhecido. Ficar “desestruturado”, pobre e sem as referências habituais.
O silêncio é o espaço da criatividade; é o lugar onde se geram as grandes ideias, onde se escrevem os grandes romances e se compõem as mais belas sinfonias… Toda obra de arte é gerada no silêncio.
As energias mais criativas distanciam-se do barulho; vida nova começa a ser gerada longe da enganadora agitação. Reverenciar, silencioso, o que nos cerca é passo seguro para o encontro com o melhor de nós.
Silêncio que fascina – não aquele que sufoca e paralisa – está na origem de toda inspiração; gera um poder que leva à transformação de pessoas e de realidades segundo a perspectiva da verdade.
No silêncio são forjadas as grandes decisões que fazem renascer as pessoas e uma rica criatividade que fecunda a convivência e o trabalho.
É um fato inegável que tudo o que é grande, belo, genial, que encanta o coração humano e traz o selo do eterno, foi criado na solidão e no silêncio.
Silêncio de um contemplativo… Mistério de restauração do mundo!
Toda obra de arte continua no tempo a falar com seu silêncio; Deus, o artista da natureza, comunica seu amor no silêncio de cada criatura.
A Criação é o grande discurso de Deus. Basta fazer silêncio para sintonizar a Sua voz.
A voz de Deus, uma vez ouvida, não morre mais; fica ecoando na natureza e no coração da humanidade.
“O silêncio pode ser comparado a uma morada que podemos criar dentro de nós: um receptáculo no qual nos recolhemos para nos defender das mensagens perturbadoras do ambiente, para sedimentar o tumulto dos pensamentos e das emoções, para beber novas reservas nas fontes da nossa vida. Assim entendido, o silêncio é uma dimensão espiritual da pessoa e condição para promover a unidade de todas as reservas interiores” (B. Giordani).
Há no fundo de nosso ser como que um lençol freático, como substrato fascinante de silêncio. Um espaço cuja acústica é a única que nos permite a escuta de certos balbucios e gemidos de nossa existência.
Uma solidão onde se pode buscar e descobrir a própria identidade. E, sobretudo, onde se pode enfrentar a apaixonante aventura de nosso “diálogo com Deus”.
É preciso ser um explorador e um colonizador enamorado do sexto continente chamado “interioridade”. É preciso saber viver dentro, de modo que não seja alienação nem fuga, mas escuta de Deus e disponibilidade para seu serviço.
Silêncio! Condição de escuta, caminho de comunhão, convivência consigo mesmo, festa e celebração, convivialidade com Deus, gratuidade e gratidão… uma sinfonia que o mundo não capta nem compreende.
O silêncio é, além disso, o clima de onde nascem as atitudes fundamentais da pessoa; de onde crescem suas experiências vitais: o amor, a justiça, a sabedoria, a paz, o valor, a gratidão…
Tudo mergulha suas raízes no húmus do silêncio. O silêncio dilata o espaço e o tempo de nossa vida. O silêncio pertence à estrutura fundamental do ser humano.
“Existe uma única língua que se fala na cidade de Deus, a língua da caridade. Os que falam melhor falam em silêncio” (Thomas Merton).
“O silêncio é o sacramento do século futuro” (Alfred de Sarov).
“Penso 99 vezes e nada descubro. Deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio. E eis que a verdade se me revela” (Einstein).