6 – Caminho para o silêncio
“Quando o silêncio fala a vida se transforma”
“Durante dias o casal caminhou, quase sem conversar. Finalmente chegaram ao meio da floresta e encontraram George Morrison.
– Minha companheira quase não falou comigo durante a viagem, disse o rapaz.
– Um amor que não tem silêncio é um amor sem profundidade, respondeu Morrison.
– Mas ela nem mesmo disse que me amava!, insistiu o rapaz.
– Há pessoas que vivem dizendo isso, continuou Morrison. E terminamos por desconfiar da verdade de suas palavras.
Os três sentaram-se numa pedra. Morrison apontou as montanhas no horizonte. “A natureza não fica repetindo o tempo todo que Deus nos ama. Mesmo assim, nós compreendemos isso”.
A oração é o caminho para o silêncio como lugar de encontro.
Na oração nos situamos às margens do Grande Silêncio com a confiança profunda e a esperança viva de reconhecer um sinal da presença eficaz do nosso Deus.
Que é o silêncio?
– não é ausência de palavras, não é mudez…
– é harmonia assombrosa, é escuta, é atitude frente a si mesmo e frente ao outro;
– é um ato de fé na presença invisível;
– é a confiança na verdade, a liberdade de não ter que defender-se diante de si mesmo, nem diante de ninguém;
– não é um vazio sideral mas uma plenitude quieta, tranquila, vivida gozozamente.
O silêncio para a espiritualidade cristã é uma qualidade da Palavra de Deus, que a distingue das vozes do mundo e de nossas próprias vozes; e é, por isso mesmo, uma condição para que se escute essa Palavra; é a situação que nos permite sintonizar com a “música calada”, “a solidão sonora” da presença de Deus.
O caminho do silêncio é um caminho de progressiva libertação do “eu”.
“O mercado é um lugar tão bom para o silêncio quanto o mosteiro, pois o silêncio é a ausência do ego” (Tonny de Mello).
Somente quando superamos o pequeno “eu” que nos tiraniza, saboreamos o silêncio como revelação de Deus e como possibilidade de entrar em comunhão com o outro. Não é possível o encontro com o melhor de nós mesmos, nem com os outros, nem com Deus, se não fazemos silêncio.
O silêncio conduz a uma interioridade recíproca como superação da interioridade solitária; é um silêncio que serve de marco na relação eu-tu; um silêncio habitado pela comunicação de Alguém que nos deixa em silêncio, isto é, vazios de nós mesmos e plenos d’Ele; um silêncio que significa a comunhão alcançada, a acolhida sem reservas, a presença vital do outro.
O silêncio está “grávido” de Deus: Deus fala no silêncio.
Na oração, o silêncio é um caminho e um dom.
O silêncio acontece em nós e, ao mesmo tempo, em seu nível mais profundo, o silêncio nos é dado gratuitamente; o silêncio é um presente como a brisa que nos revela a presença de Deus.
Passos para o silêncio:
– Fazer silêncio ao redor de si mesmo; deter-se um momento e prestar atenção: quantos ruídos externos! Quantas imagens! Há um bombardeio contínuo de mensagens do exterior.
– Guardar silêncio: todos nós, com frequência, somos uma fonte de ruídos para nós mesmos e para os outros.
Constantemente estamos rompendo o silêncio com comunicações inúteis, com mensagens que nos perturbam. Guardar silêncio é dar lugar, é criar o clima para que, por debaixo da comunicação superficial, apareça as camadas profundas da pessoa e aflorem as possibilidades da verdadeira comunicação.
– Silêncio de nossas potências interiores, de nosso entendimento e nosso querer.
O conhecimento verdadeiro de Deus não pode consistir em fazer de Deus o objeto de nosso pensamento ou de nossos desejos. “Pensar” sim, mas como se pensa em alguém a quem se ama, isto é, fazendo do pensamento expressão do amor e caminho para o amor.
“A oração não está em pensar muito,
mas em amar muito”
(S. Tereza).